Taxistas de Lisboa condenam parceria da TAP com a Uber

Transportadora aérea anunciou acordo com a Uber para "facilitar" as deslocações dos clientes entre o aeroporto e o centro da cidade. Os taxistas criticam e ameaçam mesmo deixar de ir buscar clientes àquela zona.

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A TAP anunciou uma parceria com a Uber para transportar passageiros entre o aeroporto de Lisboa e a cidade Pedro Nunes
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Em comunicado, a TAP explica que através da aplicação da Uber para smartphones, os passageiros da companhia ficam “ligados em tempo real” à rede de motoristas profissionais. Os clientes da TAP que queiram deslocar-se da cidade para o aeroporto, ou fazer o percurso inverso, apenas terão de aceder à aplicação, fazer o pedido, e serão “comodamente conduzidos” nos carros topo de gama disponibilizados pela Uber. No final, o pagamento da viagem é feito através do cartão de crédito do cliente, previamente registado na aplicação.

A nota não explica que contrapartida retira a TAP desta parceria. Diz apenas que, a partir desta segunda-feira e até 15 de Janeiro, está em curso uma campanha de Natal: “é oferecida uma deslocação até 25 euros aos clientes TAP com bilhete emitido com origem/destino em Lisboa.”

O aeroporto de Lisboa é uma das mais rentáveis praças de táxis da cidade. A notícia apanhou de surpresa o presidente da Associação Nacional dos Transportadores Rodoviários em Automóveis Ligeiros (Antral), Florêncio de Almeida. “Sem dúvida que a TAP vai ter uma reacção muito negativa por parte dos taxistas”, garante, ressalvando que ainda não conhece os pormenores da parceria.

Em declarações ao PÚBLICO, o dirigente classifica o acordo como “revoltante”. “A TAP, que está falida e nós andamos a sustentar, está a fazer acordos com entidades que só estão a prejudicar o país e que não pagam impostos em Portugal.” Para Florêncio de Almeida, este é mais um “ataque” aos taxistas: “A ANA também quer cobrar um euro por cada serviço que saia do aeroporto". “Podemos deixar de ir ao aeroporto buscar passageiros”, ameaça.

Para esta tarde está marcada uma reunião entre a Antral e a Federação Portuguesa do Táxi, da qual sairá uma posição conjunta. Mas para já o presidente da federação não tem dúvidas: "Condeno esta parceria entre uma empresa pública e uma empresa não reconhecida pelas autoridades dos transportes, que nem sequer paga impostos em Portugal", diz Carlos Ramos.

A campanha surge numa altura em que os serviços da Uber têm gerado polémica em vários países da Europa, nos EUA e na Ásia. No início deste mês, a actividade foi proibida em Espanha. Em França, foi considerada inconstitucional. Na Alemanha, a Uber chegou a ser suspensa, mas está actualmente autorizada a operar temporariamente. A Holanda também proibiu o serviço.

Em Lisboa, a Uber recebeu críticas das associações nacionais desde que foi lançada em Julho. A Antral, por exemplo, considera a aplicação “ilegal”. A Federação Portuguesa do Táxi considera que deve ser definida uma estratégia a nível europeu de resposta a esta actividade e já apelou ao Governo que actue no sentido de proibir o funcionamento desta empresa norte-americano.

Em Portugal, o serviço funciona apenas com motoristas profissionais. A aplicação serve de intermediário entre motoristas - que arrecadam 80% do valor cobrado por viagem, cabendo os restantes 20% à empresa - e clientes. Chegou a Lisboa na versão Black, que assenta no aluguer de transporte privado em carros de gama alta. Para chamar o veículo basta fazer o pedido na aplicação e pagar depois com o cartão de crédito.

O cliente paga um valor mínimo de oito euros, sendo que o valor final depende (como em qualquer serviço de táxi) do tempo e da distância percorrida: por cada minuto são cobrados 0,30 euros e 1,10 euros por quilómetro. Por exemplo, entre o aeroporto e o Marquês de Pombal, no centro da cidade, o cliente deverá pagar 20 euros, segundo a estimativa disponível no site da empresa.

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