Agente que matou Michael Brown demite-se da polícia de Ferguson

Dias depois do arquivamento do processo, Darren Wilson pediu para sair de “livre vontade”. Começa em Ferguson uma marcha de protesto de 190 quilómetros.

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Manifestante contra a decisão de arquivar processo contra Darren Wilson mostra cartaz com a cara do agente da polícia e a frase: "procurado por assassínio racista" Joshua Lott/AFP

Wilson decidiu sair da polícia local depois de lhe ter sido dito que o departamento recebeu ameaças de violência se este voltasse a trabalhar na força policial. “Estou a sair de livre vontade, ainda que seja a coisa mais dura que tive de fazer”, explicou numa entrevista telefónica ao jornal St. Louis Dispatch. “Não vou deixar que outros sejam magoados por minha causa.”

O advogado da família de Michael Brown reagiu: “Penso que Darren Wilson tomou uma decisão pessoal que foi no seu melhor interesse dadas as circunstâncias”, cita, por sua vez, o jornal USA Today.

A decisão acontece menos de uma semana depois da decisão de arquivamento do processo contra Wilson. O procurador de St. Louis, Bob McCulloch, revelou “não ter sido encontrada uma causa provável para apresentar qualquer acusação ao agente [Darren] Wilson”.

O agente não estava a trabalhar mas continuava a receber o seu salário. Em parte incerta, Wilson apareceu pela primeira vez depois do incidente na terça-feira para uma entrevista à ABC em que disse não ter problemas de consciência – “fiz bem o meu trabalho”.

Wilson disparou contra Brown, desarmado, depois de este se virar para si, pensando que este o iria atacar, diz o polícia, argumentando que se tratou de autodefesa. Testemunhas dizem que Brown tinha levantado aos mãos num aparente sinal de rendição.

Após o anúncio do veredicto, rebentaram de imediato protestos em Ferguson e noutras cidades americanas.

Enquanto isso, centenas de pessoas começaram uma marcha de uma semana em protesto pela decisão judicial. A marcha começou com mais de 150 pessoas que deverão percorrer em sete dias os 190 quilómetros de Ferguson até Jefferson City, a capital do estado do Missouri.

A marcha é inspirada nas marchas de Selma para Montgomery, lideradas por Martin Luther King em 1965, na sequência da morte de um activista de direitos dos negros, Jimmie Lee Jackson, por um polícia do Alabama. As três marchas dos 86 quilómetros que separavam Selma de Montgomery, a capital do Alabama, foram consideradas fundamentais para a aprovação da lei que proibia discriminação racial no voto.

“Estamos a procurar tanto justiça para a família de Michael Brown como uma reforma para uma comunidade indignada, e um país indignado, que procura uma mudança na abordagem de como é conduzido o policiamento”, disse Cornell William Brooks, presidente da National Association for the Advancement of Colored People, ao diário britânico The Guardian.

Na sequência do caso de Michael Brown surgiram vários testemunhos de como negros e brancos eram tratados de modo diferente pela força policial em Ferguson, composta por uma esmagadora maioria de brancos, numa localidade de maioria negra. Qualquer afro-americano saberia, por exemplo, o que era "conduzir enquanto negro" (um jogo de palavras com conduzir enquanto alcoolizado), o que acarretaria muito mais hipóteses de ser parado ou o carro sujeito a uma busca.

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