Outra vez os rankings… é possível fazermos melhor
No primeiro ano, a novidade foi os resultados de todos os alunos, em todos os exames nacionais terem sido dados aos órgãos de comunicação social (OCS) para análise. Foi uma grande vitória que implicou até uma acção judicial do jornal PÚBLICO contra o Estado. Nos primeiros anos, por razões misteriosas, apenas os OCS tinham acesso aos dados. Em determinado momento, o Ministério da Educação decidiu elaborar um ranking “oficial”. Correu mal. Os critérios foram de tal modo contestados que, no ano seguinte, os dados voltaram a ser dados em bruto aos OCS.
Mais recentemente, estes dados passaram a estar disponíveis na Internet embora só depois de terem sido enviados aos OCS e estes terem tido tempo para os tratar e apresentar no “sábado dos rankings”.
Finalmente, nos últimos três anos, o ministério passou a disponibilizar, além dos resultados dos exames, dados de contexto da população que frequenta cada escola ou agrupamento. Isto permite afinar os rankings comparando os resultados dos alunos considerando o seu contexto social o que, como sabemos, é um forte preditor de sucesso académico.
Da recusa do ministério em partilhar os dados até à sua disponibilização na Internet com dados de contexto, fizemos uma evolução considerável. Mas levou 14 anos. Podemos ir mais longe e temos de ir mais depressa. Os resultados dos alunos nos exames nacionais têm demasiado potencial de regulação do sistema e promoção da melhoria do ensino para podermos demorar mais a dar os passos que faltam. Mesmo na sua versão mais simples (a que ainda temos hoje), os rankings já conquistaram um papel importante no sistema educativo. Obrigam todos, os seus defensores e os seus detratores, a pensar sobre o que está a acontecer nas escolas e o quanto os alunos estão, ou não, a aprender. E isto é muito importante.
Nas escolas, seja qual for o contexto dos seus alunos, as direcções e os professores procuram atentamente a sua posição relativa comparando-se com escolas semelhantes. E, em muitos casos, tiram ilações do resultado.
Mas ficarmos por aqui é pouco.
A qualidade dos exames nacionais feitos em Portugal é boa e temos séries estatísticas longas. O Ministério da Educação e Ciência e as escolas têm hoje informação quantitativa e qualitativa sobre os alunos e as suas aprendizagens como nunca antes tiveram. E toda esta informação está em suporte digital. O problema é que não existe (ainda? Está quase?) um modo de juntar toda esta informação ao aluno e seguir a sua evolução ao longo do seu percurso educativo. E sem isto, pouco mais podemos fazer do que formular hipóteses sobre o que poderão significar os resultados e assistir às querelas técnicas dos especialistas da estatística sobre a última fórmula matemática que usaram nas comparações de notas.
O meu problema com os rankings é que os “naturalizemos” e deixemos de exigir que se vá mais longe. Dados por aluno permitem-nos exigir que as escolas usem os resultados dos exames como ferramenta de ensino e que o ministério crie (ou deixe criar) uma medida rigorosa do valor acrescentado por cada escola aos seus alunos.
Os rankings não são uma panaceia para os problemas que enfrentamos. Nem posicionar-se bem neles deve ser o objectivo das escolas e seus professores. Seria destruir a educação em Portugal. Mas não os melhorar e negar o seu valor como instrumento de regulação e melhoria é desperdiçar recursos e negar mais e melhores aprendizagens às nossas crianças e jovens. Há em Portugal a informação e o conhecimento necessários para melhorar os rankings. O que continua a faltar?
Os alunos não aprendem mais e melhor por causa dos exames e da informação que deles podemos retirar. Mas a existência de exames e a informação que nos dão, associada a cada aluno, é um instrumento fundamental da melhoria do sistema, da autonomia das escolas e da profissionalização do trabalho docente.
Catorze anos depois do primeiro ranking, não avançámos o suficiente na sua melhoria e na utilização dos dados de que dispomos. Considerando o persistente desfasamento entre os níveis educativos dos portugueses e os dos nossos parceiros europeus, não nos podemos dar ao luxo de continuar a perder tempo.
Confederação Nacional da Educação e Formação