Fotografia
O Porto olhos nos olhos
Cansei-me de andar sempre à procura do mítico “instante decisivo” no meu trabalho. O fotógrafo que o inventou, Cartier Bresson, já não pesa como outrora nas minhas prioridades. Deixei de ser furtivo nas tomadas de vista e comecei a encarar o meu principal tema em fotografia – as pessoas – olhos nos olhos, com muita disponibilidade de ambas as partes. Tento um processo colaborativo, em que faço os possíveis para atenuar a barreira normalmente provocada pela câmara. Quero que seja um verdadeiro momento de relações humanas e, quando isto se torna possível, sinto-me abraçado por afectos sinceros e honestos nesta minha busca de uma fotografia mais solidária. Julgo ter encontrado o meu próprio paradigma fotográfico nos rostos, nos olhares, nas expressões, nos semblantes. Enquanto fotógrafo, esta minha abordagem é muito mais enriquecedora e mais humanista, porque consigo a cumplicidade, algo que raramente alcançava nos momentos em que fotografava de forma discreta, apenas para obter o tal instante decisivo. Agora conheço o nome de todos os que vou fotografando, partilho de algo das suas vidas, das suas memórias e da sua sensibilidade, o que nem sempre acontecia. Iniciei este projeto, que terá a duração de um ano, no dia do meu aniversário, fotografando o nascimento de um bebé chamado Salvador. Proponho-me, sempre que possível, fazer diariamente um retrato de portuenses ou de amantes ou visitantes do Porto, a cidade que me adoptou. É a minha forma de tributo a esta extraordinária cidade que me dá “coisas” com a mesma generosidade e desejo de quem oferece balões a uma criança. Manuel Roberto