Turquia
30 milhões em fuga
Os fotógrafos da Reuters têm vindo a registar a delicada realidade curda, antes — quando em fuga dos ataques de Saddam Hussein — e agora, ameaçada pelo Estado Islâmico.
O facto de Saddam Hussein ter usado armas químicas contra os curdos iraquianos na década de 1980 é referido pelas potências ocidentais como uma das justificações para a invasão de 2003 que o derrubou. Uma vez mais, a frágil situação da população curda — desta vez atacada pelos combatentes do Estado Islâmico — levou os Estados Unidos e os seus aliados europeus, e países do Golfo, a usar a força militar no Iraque e na Síria.
Os fotógrafos da Reuters registaram ao longo dos anos as crises dos refugiados curdos. Fotografias de 1991 mostram homens, mulheres e crianças carregando os seus pertences, recolhendo lenha e enterrando os seus mortos no campo de refugiados de Cukurca, na Turquia, mesmo no outro lado da fronteira com o Iraque. Fugiram de uma operação militar do Governo de Saddam destinada a “arabizar” as zonas curdas do Norte. Centenas de milhares refugiaram-se na Turquia e no Irão.
Agora, uma vez mais, os curdos — cerca de 30 milhões de pessoas espalhadas pela Turquia, Iraque, Síria e Irão, sem um Estado próprio — estão em movimento. Normalmente longe dos holofotes, famílias inteiras fogem do perigo.
Desde a queda de Saddam, e até à ofensiva do Estado Islâmico que teve início no Iraque em Junho e se virou para os curdos em Agosto, que a região curda semiautónoma do Norte do Iraque se tornou um paraíso de relativa paz num país devastado pela guerra. Entretanto, os ataques dos militantes — famosos por matar qualquer um que se recuse a converter à sua versão austera do islão sunita — criaram uma nova vaga de refugiados, do Iraque e da Síria. A maioria dos curdos são muçulmanos sunitas, mas tendem a canalizar a sua lealdade mais para a sua etnia do que para a sua religião.
As fotografias da Reuters tiradas no campo de refugiados de Suruc, na Turquia, nos meses recentes mostram cenas familiares — uma fila de pessoas até desaparecer de vista fugindo das suas casas em Kobani, ao longo da fronteira com a Síria, tomada pelo Estado Islâmico. A batalha de Kobani tornou-se um ponto fulcral, não apenas para a situação curda, mas também para o confronto ocidental contra a militância islâmica.