Dia Mundial do Não Fumador – A luta continua

Há ainda um longo caminho a percorrer, no sentido de esclarecer e proteger os cidadãos.

O tabaco está implicado em 6 das 8 principais causas de morte a nível mundial – doença cardíaca isquémica, doença cerebro-vascular, doença pulmonar obstrutiva crónica, cancro do pulmão, infecções respiratórias baixas e tuberculose pulmonar. Muitas destas doenças são consideradas benignas, mas todas elas são altamente incapacitantes e podem encurtar significativamente o tempo de vida de um indivíduo. O consumo de tabaco, por estes motivos, acarreta um ónus social muito elevado, quer pelo dinheiro gasto no tratamento e reabilitação daqueles doentes, quer pelo pesado fardo que representa para as famílias, com a potencial perda do emprego por parte do doente e/ou o afastamento da actividade profissional por parte de um familiar (necessário para o acompanhamento e apoio).

O tabaco, além de ser a causa de cancros em outras localizações, como na área da cabeça e pescoço, do esófago e do estômago, da bexiga e do rim, é a causa directa de mais de 80% dos casos de cancro do pulmão. E esta nefasta doença, apesar de todas as inovações que se têm verificado nos últimos anos, continua a ter um prognóstico sombrio. Em Portugal são diagnosticados, por ano, cerca de 4000 novos casos de cancro do pulmão (mais de 10 novos casos todos os dias) e são registadas cerca de 3500 mortes anuais por este cancro.

A Pulmonale – Associação Portuguesa de Luta Contra o Cancro do Pulmão, é uma IPSS que tem pautado a sua actuação por 4 vectores: 1. sensibilização para as questões do tabaco, nas escolas e nas empresas (prevenção primária); 2. facilitação de consultas de cessação tabágica (prevenção secundária); 3. apoio e esclarecimento aos doentes com cancro do pulmão, às suas famílias e à sociedade; 4. apoio à investigação na área do cancro pulmão. Para esta associação, combater activa e claramente o consumo de tabaco passa por: sensibilizar os jovens para não iniciarem o consumo e os adultos que fumam para deixarem de fumar; facilitar a acessibilidade às consultas de cessação tabágica (é importante que quem quer deixar de fumar possa ter acesso a consultas fora do horário de trabalho); comparticipar os medicamentos que ajudam a deixar de fumar, para evitar constrangimentos financeiros; legislação, que aumente a carga de impostos sobre o tabaco e que seja punitiva para quem fuma em locais fechados ou que venda tabaco a menores. Está provado que o aumento da carga de impostos sobre o tabaco, com o consequente aumento do seu preço, é um dos principais dissuasores ao consumo. O Parlamento Europeu aprovou este ano uma nova directiva sobre os produtos do tabaco, que para a Pulmonale, ficou um pouco aquém das expectativas. Se é verdade que aumentou a área das advertências nos maços de tabaco, que restringiu a utilização de aromas distintivos e proibiu o aroma a mentol a partir de 2020, o mesmo não acontece aos produtos que têm uma “quota de mercado pouco significativa”, como o tabaco para cachimbo, os charutos ou as cigarrilhas; não regulamentou os cigarros finos, conhecidos como “slim”, que são tão prejudiciais quanto os normais; não regulamentou, pelo que vão continuar sem enquadramento legal, os cigarros electrónicos sem nicotina e não harmonizou as regras sobre ambientes sem fumo de tabaco. Os cigarros electrónicos é uma matéria que exige legislação urgente. São necessárias medidas que demonstrem que, ao contrário da mensagem que tem vindo a passar, o cigarro electrónico não é uma alternativa “saudável” ao cigarro tradicional nem ajuda a diminuír o consumo de tabaco. Para além de conter nicotina, a substância que provoca adição no tabaco, contém muitos produtos cancerígenos, diferentes conforme a composição e as marcas, tornando-se tão ou mais perigoso quanto o cigarro tradicional. Por ser considerado mais inócuo, não torna tão perceptível a necessidade de deixar o consumo e, por ser considerado um hábito “da moda”, é muito apelativo para os jovens (iniciando-os e tornando-os dependentes da nicotina). O que se tem observado é que os consumidores de tabaco experimentam o cigarro electrónico durante 2 ou 3 meses e depois voltam ao cigarro tradicional. Esta directiva europeia deixa, pois, uma ampla margem de decisão aos Estados-Membros nesta matéria legislativa, o que nos obriga a manter a nossa acção de informação e de exigência sobre a tutela.

Há ainda um longo caminho a percorrer, no sentido de esclarecer e proteger os cidadãos e a Pulmonale gostaria de dar o seu contributo.

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