Uma das melhores coisas que residem no facto de envelhecermos é a de ter a vantagem de observar a evolução daqueles que nos rodeiam, ainda que de longe, desde há uns anos para cá. Acontece-me, por isso, por vezes de sobejo, dar por mim a apreciar o que antigos colegas de faculdade têm andado a fazer com o tempo que lhes foi dado. Há coisa de dias, uma amiga e antiga parceira de carteira de licenciatura surpreendeu-me ainda mais que a generalidade dos antigos alunos do nosso curso.
Permitam-me falar-vos da Joana Esparteiro por um pouco. Devo tê-la conhecido na primeira aula de Alemão do curso de Comunicação Social e Cultural, numa das salas mais antigas da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa. Era uma segunda-feira e a manhã ainda mal havia tido início – facto que podia ser comprovado pelo sol que ainda se escondia atrás das árvores mais altas e pelo ar ensonado dos caloiros. Hoje, pouco mais de oito anos depois, após ter passado por uma excelsa formação curricular e por ter tido uma carreira exemplar em grandes agências de publicidade desta terra, a Joana cumpre o sonho que lhe tem vindo a assolar o pensamento desde há uma carrada de meses para cá.
A Joana sempre gostou de fado, embora o gostinho lhe tenha crescido exponencialmente desde há coisa de três ou quatro anos. Ouviu fados até à exaustão, um pouco por todo o lado, de igrejas a tascas, de salas de espectáculo a simples concertos dados entre amigos. E a ideia de negócio nasceu: por que não levar o fado às pessoas? Por que não entregar uma bela maquia da cultura nacional numa bandeja a quem o quiser tomar como seu – seja o ouvinte português ou estrangeiro. Eis que nasce a Fados Fora de Portas.
Como todas as grandes e originais ideias, o conceito é simples – tão simples que damos por nós a ofender-nos (“raios me partam, como é que nunca me lembrei disto antes?”): este serviço permite às pessoas um acesso mais simples e emocional aos fadistas. Isto é, imagine-se um evento, seja ele profissional (reuniões de ciclo, animações em hotéis ou embaixadas, apresentações de marcas) ou pessoal (casamentos, festas de aniversário, recepções a amigos estrangeiros), no qual se incluam concertos intimistas de fado para gáudio dos presentes. A Fados Fora de Portas agiliza o processo e a alegria marialva fadista dá-se.
Há um orgulho latente nos que passaram por nós e, de alguma forma, largaram um pedaço inspirador da sua existência, em especial quando se lançam a um mar nefasto e tortuoso sem medo que as cartas de marear se percam com a ventania. É, naturalmente, o caso da Joana. Vá, agora ide lá marcar umas sessões de fado, que a música assim o merece. E silêncio, que já se sabe o que se vai cantar.