A sonda File está a morrer
Ainda não se sabe qual o local onde a sonda da Agência Espacial Europeia aterrou, mas parece ser um buraco sem luz suficiente para manter a File viva. Ainda assim, a ciência continua a ser feita.
“A situação parece um pouco má, mas podemos ter esperança”, disse Valentina Lommats, que pertence à Agência Espacial Alemã, numa conferência de imprensa da ESA nesta sexta-feira. Neste momento, a ESA não está em contacto com a File, que está escondida pelo cometa. A informação emitida pela File passa pela sonda Roseta, que está a orbitar o cometa, e só depois é retransmitida para a Terra.
O 67P está algures entre a órbita de Júpiter e Marte, a 510 milhões de quilómetros de distância da Terra, e a sua temperatura é cerca de 70 graus negativos. A ESA contava que a sonda recebesse seis ou sete horas de luz diária nos seus painéis solares. A maioria da energia solar seria usada para aquecer a bateria até aos zero graus Celsius, explicou Valentina Lommats. O resto da energia iria carregar a bateria.
Neste momento, os dois painéis solares da File só recebem cerca de hora e meia de luz solar, num ciclo de 12 horas; por isso, quando a energia da bateria principal terminar, há uma grande probabilidade de a sonda morrer. Ist,o porque a File parece ter caído num buraco. Na quarta-feira, a sonda libertou-se da sonda orbital Roseta, que transportou a File desde 2004, quando a missão para estudar um cometa saiu da Terra. Durante sete horas, a File percorreu 20 quilómetros até à superfície do 67P, chegando ao solo com uma velocidade de um metro por segundo.
No momento em que chegou ao chão, deveria ter ejectado dois arpões para se agarrar ao solo e não fugir, o que poderia acontecer, dado a ínfima gravidade do 67P. Mas algo correu mal, ainda não se sabe o quê, e os arpões não se activaram. Por isso, a sonda ressaltou quando tocou no chão e deu dois saltos – um enorme e outro mais pequeno –, até finalmente cair num local sombrio e desconhecido.
“Talvez em Agosto possamos voltar à File”, disse ainda Valentina Lommats. Nessa altura, o cometa alcança o ponto da sua órbita mais perto do Sol – entre Marte e a Terra. E poderá haver mais sol e energia para a sonda voltar a estar activa.
Os responsáveis pela missão estão entretanto a tentar usar todos os instrumentos científicos para obter o máximo de informação possível. A noite passada, os instrumentos Mupus e Apxs funcionaram. O primeiro obteve medições da densidade, da temperatura e das propriedades mecânicas do solo, e o segundo tentou detectar partículas alfa e raios-X, que dão informação sobre a composição da superfície do cometa.
Na manhã desta sexta-feira, os cientistas enviaram instruções para a File, para que activasse a broca SD2, que retira pequeninas amostras do solo e as coloca no forno do Cosac, um instrumento científico que identifica moléculas orgânicas complexas. Para isso, o Cosac aquece as amostras, e os gases libertados são analisados e identificados por cromatografia gasosa e espectrometria de massa.
Um dos objectivos da missão é compreender se a matéria orgânica existente na Terra, no início da sua existência, veio dos cometas, que terão chocado em grandes quantidades contra o nosso planeta. Este tipo de informação pode ajudar a compreender como é que a vida surgiu. Ainda não se sabe se a experiência resultou.
“A broca foi activada hoje. Só à noite saberemos se vai conseguir funcionar, trazer as amostras para o forno e activar o Cosac”, explicou Stephan Ulamec, um dos responsáveis da missão. “Isto vai ser muito emocionante, porque não sabemos se as baterias da File ainda terão energia suficiente para transmitir a informação.”
Se a File ainda tiver energia, por volta das 21h desta sexta-feira (hora de Lisboa), voltará a entrar em contacto com a Roseta, que depois enviará a informação para a Terra. Cerca de duas horas depois, os responsáveis da missão ficarão a saber se a experiência correu bem.
A Roseta, por seu lado, que continua a orbitar o 67P, está, com todos os seus instrumentos, a funcionar a 100% e espera-se que continue a trabalhar até ao fim de 2015. Nessa altura, o cometa já estará a afastar-se do Sol e poderá ser possível observar como este corpo se transformou depois do período de maior actividade, em que cresce a cabeleira e a cauda do cometa, uma consequência do material que se está a libertar devido à proximidade do Sol.
“A missão é fantástica, é única e vai ser única para sempre”, disse Andrea Accomozzo, um dos responsáveis pelas operações. O especialista ainda não desistiu da File: “Quero saber onde é que ela está. Quero saber se hoje vai estar viva.”
Notícia actualizada às 16h58.