Os primeiros já chegaram há algum tempo. O dia aproxima-se do seu fim de tarde. Os segundos, minutos e horas percorrem pacificamente os cronómetros. A luta contra o relógio já é algo do passado. Artur Alves, de 43 anos, já não olha para o relógio. O seu objectivo era terminar o V Triathlon Azores-Sata, que decorreu em Ponta Delgada. Conseguiu, foi o último. Após cerca de 6h30, os 1800 metros a nadar, 84 quilómetros de ciclismo e 21 a correr foram ultrapassados. Foi o último, mas o sorriso não desmente: afinal, foi o primeiro.
O que é melhor? Terminar em primeiro ou em último lugar? Após a realização do V Triathlon Azores-Sata, talvez a resposta seja em último. Pelo menos exteriormente. Em primeiro terminaram Vanessa Pereira e Sérgio Marques, ambos bicampeões nacionais de triatlo longo com o triunfo em Ponta Delgada. Nas suas fisionomias, pouco por onde reter. Já em Artur Alves a alegria era contagiante, mesmo depois de saber que foi o último. “Os últimos serão os primeiros”, já diz o ditado popular. E no V Triathlon Azores-Sata foi assim em termos de satisfação pessoal.
Artur Alves é bancário em Ponta Delgada. É na sagrada hora de almoço (para muitos) que costuma correr ou nadar. Durante a semana percorre entre 21 e 24 quilómetros do asfalto da capital de São Miguel. Pelas águas nada cerca de seis, sete quilómetros. Aos fins-de-semana entrega-se ao treino longo. Sempre com os amigos. E o ciclismo? “Pois, há um ano comecei a andar com mais regularidade, até então quase não me sentava no banco de uma bicicleta. Mas, das três modalidades, é a que menos treino”, refere entre risos, num diálogo feito a andar porque Artur Alves pretende ver a entrega de medalhas da prova, o que acontecerá por volta das 17h, ou seja, 30 minutos antes de ter ultrapassado a meta, 7h antes de tudo ter começado, às 10h de um domingo diferente em Ponta Delgada, um domingo no qual os golfinhos e as baleias ficaram para segundo plano, já que era a vez de apreciar o “bicho” Homem a percorrer as águas e as estradas da ilha. Ao olharmos a frieza dos números, Artur Alves precisou de 37m33 para nadar os 1800 metros, de 3h45m43 para ultrapassar os 84 quilómetros do ciclismo e 1h53m07 para percorrer os 21 quilómetros, a popular meia-maratona. No total, já com as transições incluídas, o tempo oficial do bancário foi de 6h23m44, mais 2h16 que o campeão Sérgio Marques, mais 1h38 que a campeã Vanessa Pereira. Ou será melhor dizer menos 2h16 que o campeão Sérgio Marques, menos 1h38 que a campeã Vanessa Pereira?
Artur Alves nada, anda de bicicleta e corre por puro prazer, “mas porque também não há mais nada para fazer aqui”. Sempre com os amigos, que estão sempre na água. A relação com o mar é o denominador de todos, talvez mais do que o próprio asfalto. O desporto os une. Ontem, hoje e amanhã. “É algo sagrado para nós.”
Olha com interesse para o Triatlo nos Açores. Participou sempre, nas cinco edições. Acredita que há ainda muito por fazer, principalmente devido ao trajecto, que deveria ser diferente. “Por razões políticas não o é”, garante. “É uma prova que pode aumentar outro tipo de turismo que não estamos habituados a ter, o turismo do desporto.”
Artur Alves esteve recentemente na Maratona de Lisboa, que completou em 3h53. Já correu outras maratonas, já participou em outras provas. Garante que o seu objectivo é fazer no futuro um Ironman curto, um Ironman longo, a Maratona das Areias no Sahara…. “Ser melhor do que o Carlos Sá”, sorri.
Na cerimónia de entrega de prémios aplaude os vencedores, mas sente alguma tristeza por não receber pelo menos um diploma de participação. Lamenta por ele mas também pelos restantes participantes que não alcançaram os três lugares do pódio, embora tenham alcançado a para muitos intransponível satisfação pessoal. Sim, porque também os últimos merecem ser reconhecidos. Mesmo o último de todos, que dificilmente não será o primeiro de todos no orgulho pessoal!