Pode parecer um filme de Bollywood, o ambiente místico que envolveu as comemorações à volta de Jigar e Nelita, que se casaram no grande salão de Radha Krishna em Telheiras.

Para a comunidade hindu, o casamento é uma das cerimónias mais importantes. A celebração, cheia de rituais, não se resume apenas a umas horas de convívio com os convidados. Durante três dias, os noivos passam por provas simbólicas até chegarem à união final.

São quase mágicas estas cerimónias que antecedem o casamento, como a noite das danças (em que os noivos se apresentam como espectadores para os amigos e familiares que dançam freneticamente para eles). No último dia, o mais longo e significativo, o definitivo, juntaram-se num salão cerca de 900 pessoas para assistir à cerimónia. Amigos próximos, familiares, tios, avós, muitas crianças, vizinhos, pessoas vindas de toda a parte, Inglaterra, Espanha, França e mesmo Índia, entram e saem da sala. Uns tiram fotos, outros olham pelas crianças que correm, outros ainda colocam nas mesas os pratos descartáveis preparados para o festival de comida hindu que será servido ao mesmo tempo que decorre a última fase da cerimónia Saptapadi — na qual os noivos dão sete passos juntos, pronunciando ao mesmo tempo palavras de amor, felicidade, prosperidade e devoção. A refeição é servida ao mesmo tempo que decorrem as juras de amor entre Jigar e Nelita em cima do palco feito altar, decorado com colunatas douradas dignas do templo de Krishna. Aqui a alimentação não é física mas espiritual. O amontoado de gente na fila da frente é directamente proporcional ao barulho que ecoa no salão.

Centenas de saris sentados nas primeiras filas assistem atentamente a todos os passos. Há que perder alguns instantes só para os apreciar. O traje feminino hindu por excelência é à partida igual na forma, mas exuberante nas cores, texturas dos tecidos e quantidade de lantejoulas e bordados aplicados. Cada um apresenta-se como modelo feito à medida. E elas são verdadeiras deusas transportando a sua indumentária, as jóias com que adornam os braços, pescoço e testa, até o cabelo, completando com as pinturas de henna que se entrelaçam nos dedos até ao antebraço. Tudo faz parte do grande imaginário hindu. Tânia Grafino