Dilma com ligeira vantagem mas analistas não arriscam interpretação das sondagens
Presidente está à frente de Aécio nos estudos do Ibope e Datafolha, embora num dos casos se considere empate técnico.
As últimas sondagens antes das eleições, reveladas neste sábado à noite, colocam a actual Presidente à frente da corrida eleitoral. O Ibope atribui 49% das intenções de voto à candidata do Partido dos Trabalhadores contra 43% do candidato do Partido da Social Democracia Brasileira. Em relação à sondagem de quinta-feira, Dilma mantém os mesmos valores e Aécio Neves sobe dois pontos percentuais, contribuindo para que a imprensa brasileira veja esta recuperação como um sinal de que está tudo em aberto quanto ao vencedor.
A Datafolha também coloca Dilma à frente (52% contra 48% numa análise dos votos válidos, 47% contra 43% nos votos totais). Esta diferença de quatro pontos percentuais está ainda dentro do limite da margem de erro (dois pontos percentuais para cima ou para baixo), embora a própria Folha de São Paulo sublinhe que a maior probabilidade é que a "petista" esteja à frente, já que a única hipótese de empate é verificar-se o erro máximo (em sentidos opostos) no resultado dos dois candidatos.
Neste caso, em relação aos resultados do inquérito de quinta-feira, Dilma Rousseff caiu um ponto percentual, exactamente o ganho de Aécio face à última sondagem.
Estas são as últimas sondagens antes das eleições deste domingo e surgiram já depois do último debate televisivo entre os dois candidatos e após a polémica capa da revista Veja, que acusava Dilma Rousseff e Lula da Silva de terem conhecimento das práticas de corrupção na Petrobras.
Aécio Neves, que obteve 33,6% dos votos na primeira volta (contra 41,6% de Dilma), surgiu à frente nas primeiras sondagens do segundo "turno", mas a meio do mês a situação inverteu-se, com Dilma a passar para a frente. As últimas sondagens dizem, por um lado, que a Presidente vai à frente e, por outro, que nos últimos dias Aécio conseguiu reduzir a distância.
Analistas não arriscam interpretação
Não há consenso entre os analistas na interpretação dos números das derradeiras pesquisas antes da votação. Há quem atribua a ligeira quebra de Dilma Rousseff a uma reacção negativa do eleitorado após a publicação da notícia da Veja – que pode ter alimentado a dúvida sobre o real papel de Dilma na Petrobras – ou ao seu desempenho no debate da TV Globo, que foram os dois factos relevantes do último dia da campanha. Mas também há quem note que a taxa de rejeição da Presidente, medida já no sábado, não aumentou face às pesquisas anteriores – aliás, diminuiu um ponto de 39 para 38%, enquanto a de Aécio subiu na mesma proporção de 40 para 41%.
Alguns comentadores diziam que, apesar de não ter havido nenhuma revelação bombástica nem nenhum dos candidatos ter tido uma prestação ou brilhante ou medíocre no debate da Globo, a emissão foi a mais vista de todos os duelos televisivos entre Dilma e Aécio – 60% dos eleitores brasileiros disseram ter assistido ao confronto.
O que quer dizer que para muitos indecisos, esse poderá ter sido o momento que determinou a escolha do candidato: a discussão e avaliação do desempenho dos dois, que se terá prolongado pelo dia seguinte, poderá não ter sido totalmente reflectido pelas sondagens divulgadas antes da votação. Só 46% dos inquiridos disseram ter a certeza absoluta que votariam em Dilma e 41% em Aécio Neves, o que deixa de fora uma maioria de eleitores que ou ainda não decidiram ou ainda admitem a possibilidade de mudar de ideia.
Entre a audiência do debate, foram mais os que consideraram que Aécio se saiu melhor (36%) do que os que acharam que foi a Presidente quem teve a melhor prestação (27%). Mas também houve mais eleitores do PSDB a assistir do que apoiantes do PT: 66% e 58%, respectivamente. Para 4%, nenhum dos candidatos se destacou, e 27% dos inquiridos disseram não saber responder à pergunta.
Os estados que podem definir o resultado
Com um intervalo entre os dois candidatos tão apertado, todos os votos contam. Mas há cinco locais a que as campanhas estão a dar especial destaque, pelo seu peso eleitoral ou pela importância política e simbólica que detêm no todo nacional.
Logo à cabeça surge São Paulo, o estado mais populoso do país, com 44 milhões de habitantes, e que é governado pelo PSDB há 20 anos. A vitória de Aécio Neves não está em causa, mas para garantir a reeleição a Presidente Dilma Rousseff precisará de melhorar o seu desempenho em relação à primeira volta, onde obteve apenas 25% dos votos. Ou seja, a “petista” precisa de transferir uma boa parte dos votos que no dia 5 de Outubro foram para Marina Silva para a sua candidatura, e esperar que a crise hídrica, que mantém o estado em alerta máximo pela possível falta de água (mais de 70 municípios já estão a racionar o abastecimento), motive um afastamento dos eleitores em relação ao PSDB.
O estado de Minas Gerais, onde nasceram os dois candidatos, é o segundo campo de batalha mais importante. Governado por Aécio Neves entre 2003 e 2010, a expectativa era que o tucano dominasse a votação, mas a surpresa verificou-se com a eleição, logo à primeira volta, do candidato a governador Fernando Pimentel, representante do PT, e a prevalência de Dilma na corrida pela presidência. O cenário deverá ser diferente na segunda volta, em que as atenções estão voltadas para o intervalo de diferença entre os dois candidatos: os especialistas dizem que o “tucano” precisa de recuperar um défice de dois milhões de votos.
Terceiro maior colégio eleitoral do país, com mais de 12 milhões de votantes, o Rio de Janeiro deu a vitória a Dilma na primeira volta, com 36%, seguida de Marina Silva, com 31% e Aécio Neves, com 27%. Pelo facto de existir uma parcela de quase um quarto de eleitores evangélicos, e um candidato a governador pelo Partido, ligado à Igreja Universal do Reino de Deus, a campanha do PT conta com um efeito reduzido de abstenção. Historicamente, o estado tende a votar no PT, e as sondagens colocam Dilma à frente.
A votação em Pernambuco também está a merecer atenções especiais das campanhas. O estado do Nordeste, de onde era natural o presidente do Partido Socialista Brasileiro (PSB) Eduardo Campos, que morreu num desastre de aviação logo no início da campanha, em Agosto, foi o único da região onde o PT não venceu – na primeira volta, foi Marina Silva, que assumiu a “chapa” do PSB, quem prevaleceu, com 48% dos votos. O candidato do PSDB só arrecadou 6%, mas espera colher dividendos do apoio declarado pela família de Eduardo Campos (herdeiro de uma dinastia política pernambucana) à candidatura de Aécio Neves.
A importância do estado para o PT ficou clara quando, na última semana de campanha, Dilma e Lula passaram um dia a fazer campanha juntos em várias cidades pernambucanas.