Em seis meses, os chineses da Fosun já aplicaram dois mil milhões de euros em Portugal
Empresa reforçou posição na Fidelidade para 84,98%, após trabalhadores comprarem uma parte residual das acções a que tinham direito.
Isto após os trabalhadores da seguradora não terem subscrito todas as acções a que tinham direito.
De acordo com os dados oficiais ontem divulgados, os funcionários compraram apenas 16.860 acções da empresa, quando estavam disponíveis 6.050.000 títulos no âmbito da Oferta Pública de Venda (OPV), correspondentes a 5% do capital.
Assim, só 0,014% da seguradora fica nas mãos dos trabalhadores. Houve apenas 48 ordens de compra de acções, a 9,62 euros (valor que incorpora um desconto de 5%), tendo os trabalhadores aplicado um total de 162.193 euros. A fraca adesão dos funcionários (0,28% do total a que tinham direito) a este tipo de operações tem sido uma constante dos últimos anos.
O restante capital vai agora ser adquirido pela Fosun, que sobe assim a sua participação na Fidelidade para 84,98%. A empresa de capitais chineses é obrigada a ficar com todas as acções que não foram adquiridas pelos trabalhadores, sem direito ao desconto de 5%. A Fosun pode também tentar, depois, comprar os títulos adquiridos pelos trabalhadores, mas só a partir de Fevereiro do ano que vem. Até lá, as acções compradas na OPV estão sujeitas a um regime de indisponibilidade.
A Caixa Geral de Depósitos (CGD) é dona dos restantes 15% da seguradora, que assegurou entretanto a compra da maioria do capital da Espírito Santo Saúde (ES Saúde), dona de unidades como o Hospital da Luz, em Lisboa, e do Hospital Beatriz Ângelo, em Loures (este regime de parceria público-privada). Não está prevista a negociação em bolsa nem das acções compradas pelos trabalhadores nem do restante capital.
A OPV surgiu na sequência da privatização da Fidelidade, que era detida a 100% pela CGD. O banco público colocou a maioria do capital, num processo ganho pela Fosun, que fechou oficialmente o negócio em Maio deste ano, pagando 1650 milhões de euros (acima do que estava estimado inicialmente). Esta quarta-feira, a Fidelidade ficará a saber qual a posição com que fica na ES Saúde, após ter garantido, no meio de uma guerra de preços, os 51% que estavam nas mãos da Espírito Santo Health Care Investments (detida pela Rioforte em 55%, seguindo-se o Novo Banco e o ESFG).
Agora, falta apenas saber, dos 49% dispersos em bolsa, quem é que não aceita a oferta de compra de 5,01 euros por acção lançada pelos chineses. No limite, se todos os accionistas venderem, a empresa fica com 100% do capital, terá de pagar 478,6 milhões.
Neste momento, a Fosun é já o maior investidor chinês em Portugal, à frente da China Three Gorges (CTG) e da State Grid, que são hoje os maiores accionistas da EDP e da REN, respectivamente. A REN é, aliás, um ponto de encontro destas três empresas: além da State Grid, que domina com 25%, a Fosun é dona de 4,8% (via Fidelidade), ficando a CTG, por via da EDP, com outros 5%. A posição de 4,8% da Fosun na REN vale cerca de 70 milhões de euros, a preços de mercado.
Tudo somado, a Fosun investiu, em seis meses, cerca de 2020 milhões de euros em Portugal até hoje, e o valor vai sempre subir. Pode chegar aos 2260 milhões de euros se ficar com 100% do capital da ES Saúde. Controlada por Guo Guangchang (que detém 58%), a Fosun, cotada na bolsa de Hong-Kong, está presente em Portugal através da Longrun Portugal SGPS.
Aos investimentos da Fosun somam-se os da CTG na EDP (2700 milhões de euros) e os da State Grid na REN (387 milhões), ambos em 2012. No ano seguinte, a Beijing Enterprises Water assegurou a compra da Compagnie Générale des Eaux Portugal por 95 milhões de euros. Assim, nos últimos três anos, as empresas chinesas aplicaram mais de cinco mil milhões de euros em Portugal. Antes, em 2011, já a Sinopec comprara 30% da subsidiária da Galp no Brasil, pelos quais pagou 4800 milhões. Com Pedro Crisóstomo