Estado Islâmico cada vez mais forte às portas de Bagdad
Responsáveis de Anbar dizem que a província pode ficar totalmente nas mãos dos jihadistas "dentro de dez dias".
Issawi diz ter submetido um pedido formal ao seu Governo para tropas americanas no terreno – algo que tanto o Presidente norte-americano, Barack Obama, como o primeiro-ministro iraquiano, Haider al-Abadi, têm posto de lado. Questionado sobre este pedido, o Governo de Bagdad disse ainda não ter recebido nada.
Apesar de ataques aéreos norte-americanos terem conseguido impedir alguns avanços dos jihadistas, com os bombardeamentos a ajudar à reconquista rápida pelos militares iraquianos da barragem de Haditha, a segunda maior do país, das mãos dos jihadistas, a situação parece estar cada vez mais difícil. “Estamos continuamente a perder”, disse Issawi, referindo-se ao exército iraquiano em Anbar.
Enquanto o mundo estava concentrado em Kobani, uma cidade de maioria curda na Síria, cercada pelo EI – apenas uma estrada livre levava à fronteira com a Turquia – as forças dos islamistas continuavam a atacar em várias frentes em Anbar e a somar ganhos, tomando vários postos militares.
Uma fonte americana dizia que não havia comparação entre os combatentes curdos e os soldados do exército iraquiano. “Os curdos estão a mover-se, estão a retomar cidades e território”, disse um responsável norte-americano citado sob anonimato. O exército iraquiano “começa uma operação e pára depois de um quilómetro”.
Até agora, “eles estão a receber reforços e estão-se a aguentar, mas é cada vez mais difícil”.
O perigo principal é Ramadi, a capital da província, a 80 quilómetros de Bagdad. Se Ramadi cair, o resto da província seguir-se-á facilmente, e o EI fica com uma via aberta para a capital iraquiana.
O grupo “sempre quis Bagdad”, reconheceu a porta-voz do Departamento de Estado dos EUA Jen Psaki. A capital tem estado bem defendida, mas analistas dizem que o avanço em Anbar é preocupante. “Disseram que nunca iria acontecer mas agora quase aconteceu”, dizia ao britânico The Independent um porta-voz da Fundação para Ajuda e Reconciliação no Médio Oriente, referindo-se a uma série de avanços dos jihadistas na chamada cintura de Bagdad.
Os EUA já deslocaram helicópteros Apache para Anbar, mas ainda assim os ataques aéreos continuam a ser insuficientes. “Temos de aumentar a determinação das forças de segurança iraquianas”, disse Psaki.
Relatos do terreno são desencorajadores: O exército iraquiano é uma força minada por corrupção e incompetência nos postos superiores e falta de ânimo e nenhuma disciplina nos mais baixos, resumia o diário britânico Financial Times. E em Anbar, continuam as condições que levaram muitos sunitas da zona a apoiar o EI – o facto de se sentirem completamente desprezados pelo poder xiita de Bagdad. Mais, os ataques do exército iraquiano com pouca consideração pelas baixas civis ainda aumentaram a percepção de que as vidas dos sunitas não valiam nada para as autoridades centrais. “O exército iraquiano está a usar o EI como desculpa para cometer genocídio contra os sunitas”, dizia à Foreign Policy Omar, um médico da cidade, que divide o seu trabalho entre a cidade e o Norte do Iraque. “Por cada ataque [do exército iraquiano] em Falluja, vejo uma nova bandeira preta quando volto.”
“Toda a gente sabe que Anbar é a principal incubadora do EI e está-se a expandir daqui”, disse Faris Ibrahim, do conselho provincial, ao jornal pan-árabe Asharq Al-Awsat. “Ignorar Anbar levou a um desastre, como estamos a ver hoje.”
Alguns soldados que escaparam a avanços do EI (ainda estes dias os jihadistas puseram online imagens de soldados iraquianos desmembrados após uma conquista; as tomadas de instalações militares pelo EI têm sido pontuadas por execuções em massa e decapitações dos militares do exército) dizem que foram mandados de volta para Anbar mas não regressarão. “Os nossos generais, o nosso ministro da Defesa, e os nossos oficiais não nos dão o apoio logístico e as armas de que precisamos para vencer. Na área em que estamos a lutar, as pessoas não nos querem lá”, resumia um soldado ao Financial Times. “Porque é que hei-de ir e ser morto a defender uma área em que o povo apoia o inimigo?”