Jihadistas conquistam quartel-general das forças que defendem Kobani
Enviado especial da ONU pede à Turquia que autorize curdos sírios a regressarem à cidade para impedir vitória do Estado Islâmico.
Segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos, citado pela AFP, “os jihadistas assumiram o controlo do ‘sector de segurança de Kobani’”, o bairro no Norte da cidade que integra o complexo militar das Unidades de Protecção Popular (YPG), a principal milícia curda, a base das Assayech, as forças de segurança locais, e a sede do município.
À Reuters, Rami Abdel Rahman, director da ONG síria, disse que os jihadistas, que segunda-feira conseguiram furar as defesas de Kobani, “controlam já 40% da cidade” e a sua prioridade é agora “apoderar-se do posto fronteiriço com a Turquia”, situado a menos de um quilómetro dali.
Os aviões da coligação liderada pelos Estados Unidos bombardearam durante a noite vários alvos na cidade e já esta manhã voltaram a atacar posições dos jihadistas. Mas com a batalha a travar-se dentro do perímetro urbano a sua capacidade para travar o avanço dos radicais é cada vez menor. Uma jornalista da AFP que está junto à fronteira contou que eram bem audíveis os disparos de armas automáticas e de obuses de morteiro na zona sudoeste da cidade, de onde se elevavam espessas nuvens de fumo.
O vice conselheiro de segurança nacional dos EUA, Tony Blinken, estimou também que cerca de 40% de Kobani esteja nas mãos dos combatentes do Estado Islâmico. Blinken acrescentou: “Não sabemos o que vai acontecer porque com a ausência de uma força no terreno, será difícil apenas com ataques aéreos impedir o ISIL [antigo acrónimo do grupo] de potencialmente tomar a cidade”.
“Pedimos às autoridades turcas que autorizem os refugiados a entrar na cidade para apoiar as acções de autodefesa”, pediu o enviado especial da ONU, Staffan De Mistura, afirmando que, se Ancara continuar a barrar o seu regresso à Síria, “Kobani vai provavelmente cair”.
Staffan De Mistura falava numa conferência de imprensa em Genebra, em que mostrou fotografias aéreas que indicam que “entre dez a 13 mil habitantes de Kobani estão concentrados numa zona de fronteira” ainda em território sírio. Dentro do perímetro da cidade, acrescentou, estarão outros 500 a 700 civis, “na sua maioria idosos”.
Se nada for feito, “estes civis serão provavelmente massacrados”, avisou. E acrescentou: “Ainda se lembram de Srebrenica?” Referia-se ao enclave muçulmano na Bósnia onde oito mil homens e rapazes foram mortos quando as forças sérvias o tomaram. “Nós lembramo-nos. Nunca esquecemos e provavelmente nunca nos perdoámos.”
Numa declaração inesperada para um representante da ONU, o diplomata sueco disse que “não será através de resoluções das Nações Unidas que o Estado Islâmico irá ser travado”. Pediu, por isso, à Turquia que “adopte medidas adicionais”. “Se não o fizer, todos nós, incluindo a Turquia, vamos lamentá-lo.”
Os acontecimentos em Kobani provocaram entretanto a pior violência na Turquia dos últimos anos. Os curdos turcos, um aminoria de cerca de 15 milhões, têm protestado contra o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, pedido acção da aprte de Ancara. Nos protestos no Sudeste da Turquia, de maioria curda, morreram já pelo menos 31 pessoas em três dias de violência.