Nobel da Paz: aceitam-se apostas

Snowden, Malala, o Papa, pacifistas japoneses ou alguém escolhido para ser visto como uma sanção a Vladimir Putin. A resposta é nesta sexta-feira. Há 278 candidaturas.

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O Papa é o favorito das casas de apostas VINCENZO PINTO/AFP

Desde a jovem paquistanesa Malala, já dada como finalista no ano passado, ao controverso Edward Snowden, passando por um grupo de pacifistas japoneses, opositores russos ou ainda o Papa Francisco, a lista de candidatos é vasta.

“A política russa na Ucrânia, com a anexação da Crimeia e a violação das fronteiras, mas também o tratamento reservado aos críticos do Kremlin, não pode passar despercebida ao comité Nobel”, considera Antoine Jacob, jornalista francês autor de História do Prémio Nobel.

Para o presidente do comité, Thorbjoern Jagland, “sancionar Moscovo seria também um meio de demonstrar que actua de forma independente, apesar de ser secretário-geral do Conselho da Europa, de que a Rússia faz parte”, explica Jacob.

Fundado pelo ex-Presidente soviético Mikhail Gorbachev, com o cheque que recebeu pelo Nobel da Paz que lhe foi entrege em 1990, o jornal Novaïa Gazeta, raro meio de comunicação ainda independente e que já viu vários dos seus jornalistas serem assassinados, está entre os possíveis laureados.

Apostar num vencedor torna-se ainda mais difícil para este ano, já que o comité Nobel recebeu um número recorde de 278 candidaturas, cuja identidade é mantida secreta por um período mínimo de 50 anos.

Os analistas e apostadores só têm por instrumento de trabalho os nomes que são divulgados publicamente pelos patrocinadores das candidaturas. E esses não são muitos

Herói para um, traidor para outros, o ex-consultor da Agência de Segurança Americana (NSA) Edward Snowden, que revelou a magnitude do programa de vigilância norte-americano, foi proposto para o Nobel da Paz por um grupo de deputados noruegueses.

Refugiado em Moscovo, ele próprio diz não acreditar que vá ser o escolhido na sexta-feira. “É pouco provável que o comité Nobel apoie uma coisa deste género”, disse recentemente numa videoconferência.

Observador atento das escolhas do Nobel, o director do Instituto de Pesquisa Internacional de Paz de Oslo (Prio), Kristian Berg Harpviken, aposta na vitória de um grupo de “japoneses que defendem o artigo 9.º”.

Estes militantes dizem-se empenhados em preservar o pacifismo que está consagrado na Constituição nipónica (no artigo 9.º), à qual o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, introduziu uma nova interpretação que permite a participação das forças de autodefesa do país em operações militares externas de apoio a países aliados.

“Podemos considerar que as guerras entre Estados fazem quase parte do passado depois do fim da Guerra Fria, mas os acontecimentos na Ucrânia e as tensões que estão a fermentar na Ásia Oriental recordam-nos que elas podem ressurgir.”

A adolescente paquistanesa Malala Yousafzai, que se tornou a besta negra dos taliban, é a preferida da Nobeliana, um trio de historiadores especialista do Nobel, pelo seu combate a favor da educação das raparigas no mundo. Mas a sua juventude poderá, ainda este ano, jogar contra ela, por o comité poder considerar que o Nobel da Paz é um fardo demasiado pesado para ser carregado por uma rapariga de 17 anos.

Entre os outros candidatos, encontram-se os habitués, como o médico congolês Denis Mukwege, que trata há 25 anos mulheres vítimas de violência sexual, que é utilizada como arma de guerra na República Democrática do Congo, e o militante bielorrusso dos direitos humanos Ales Beliatski, libertado da prisão no mês de Junho.

As casas de apostas dão o Papa Francisco como o seu favorito.

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