Mulher espanhola ter-se-á contaminado ao tocar com as luvas na cara

Já morreram quase 3900 pessoas com o vírus do ébola, entre mais de 8000 infectadas durante a actual epidemia. Uma das mortes é a do liberiano que tinha viajado infectado para os Estados Unidos.

Fotogaleria
A espanhola Teresa Romero DR
Fotogaleria
O missionário espanhol Manuel García Viejo ficou infectado com ébola na Serra Leoa Reuters

Teresa Romero, de 44 anos e há 15 auxiliar de enfermagem, conversou por telefone com uma jornalista do El País sobre o que terá estado na origem do seu contágio, quando esteve em contacto com o missionário e médico espanhol Manuel García Viejo, que regressou a Espanha doente vindo da Serra Leoa, um dos países mais afectados pela epidemia em curso na África Ocidental.

Manuel García Viejo morreu a 25 de Setembro, e Teresa Romero entrou duas vezes no quarto dele no Hospital Carlos III – La Paz, em Madrid, onde ela também está agora internada desde a madrugada de terça-feira: a primeira vez foi para o ajudar, a segunda para limpar o local já depois da morte do missionário. “Creio que a falha foi quando despi o fato. Vejo esse momento como o mais crítico, em que [o vírus] pôde passar, mas não tenho a certeza”, disse ao jornal espanhol, acrescentando que se sentia um pouco melhor: “Nem eu própria sei o que aconteceu.”

A hipótese levantada pela auxiliar de enfermagem foi depois corroborada pelo chefe de medicina interna da Unidade de Doenças Tropicais do Hospital Carlos III – La Paz, Germán Ramírez, citado pelo jornal El Mundo: “Esta manhã [quarta-feira] estivemos a rever a cadeia de contágio, a actividade dentro do quarto durante todo o tempo em que ela lá esteve e o momento em que vestia e despia o fato. E ela comunicou-me que num dos momentos pode ter havido um contacto ao retirar as luvas e que pode ter tocado na cara.”

Germán Ramírez relatou que falou em três ocasiões com Teresa Romero para passar a pente fino os procedimentos seguidos pela auxiliar de enfermagem no contacto com o doente de ébola. “Pode ser que não tenha havido um erro, porque um erro consiste em saber as coisas e fazê-las mal, mas apenas um acidente e que num primeiro momento ela não conseguiu lembrar-se devido à situação clínica em que se encontrava”, referiu ainda Germán Ramírez, segundo o El Mundo. “Este tipo de gestos pode passar despercebidos, inclusivamente para ela”, acrescentou ao mesmo jornal a subdirectora clínica do hospital, Yolanda Fuentes.

A Organização Mundial da Saúde actualizou, esta quarta-feira, os números da epidemia, que começou em Dezembro de 2013, na Guiné-Conacri, e depois se espalhou à Libéria, Serra Leoa, Nigéria e Senegal. Até 5 de Outubro (domingo), foram infectadas 8033, tendo morrido 3879.

Este número de mortes ainda não inclui a da primeira pessoa diagnosticada com ébola nos Estados Unidos: o liberiano Thomas Eric Duncan, que a 20 de Setembro chegou aos EUA para visitar a família, e que morreu esta quarta-feira (8 de Outubro) num hospital de Dallas. Foi só nos Estados Unidos que o liberiano, de 42 anos, começou a ter sintomas da doença, que incluem dor de cabeça, febre alta, vómitos, diarreias e hemorragias, altura em que o vírus é contagioso.

Poucos dias após a chegada aos EUA, foi pela primeira vez ao hospital (os sintomas surgem até 21 dias após a infecção), mas foi enviado para casa apenas com antibióticos. Acabou por ser internado quando piorou. Foi então que se receou que Thomas Eric Duncan tivesse contaminado alguém, pelo que actualmente estão a ser vigiadas cerca de 48 pessoas com quem ele esteve em contacto, incluindo dez em isolamento.

Esta quarta-feira, as autoridades norte-americanas anunciaram também que vão monitorizar os passageiros que cheguem de África Ocidental a cinco aeroportos dos Estados Unidos (John F. Kennedy, em Nova Iorque; Newark Liberty, em New Jersey; Dulles, em Washington; O'Hare, em Chicago; e Hartsfield-Jackson, em Atlanta). Ser-lhes-á medida a temperatura corporal e terão de preencher um questionário detalhado sobre as suas actividades na África Ocidental.

A nível de financeiro, o Banco Mundial estima que a epidemia do ébola tenha um impacto regional de 32.600 milhões de dólares (25.600 milhões de euros) até ao final de 2015, se o vírus se propagar bastante para lá da Guiné-Conacri, Libéria e Serra Leoa. “O enorme custo económico do actual surto nos países afectados e no mundo podia ter sido evitado através de um investimento contínuo que reforçasse os sistemas de saúde”, alertou o presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim, também esta quarta-feira.
 

   

Sugerir correcção
Comentar