Professora colocada através da Bolsa de Contratação acabou por não ser aceite pela escola
Associação de Professores Contratados diz que é quase impossível os docentes conseguirem ter toda a documentação que prove o que já fizeram em várias escolas.
A história é contada por uma professora de Educação Especial, de 35 anos e 13 de serviço, e aconteceu antes de o Ministério da Educação e Ciência (MEC) ter decidido, na madrugada de sexta-feira, permitir que, até às 23h59 desta terça-feira, cerca de 40 mil candidatos tenham acesso aos dados na plataforma de candidatura e rectifiquem as respostas dadas quando se candidataram. Depois voltará a ser feita uma nova ordenação de professores — a inicial estava incorrecta, devido a um erro matemático, e a fórmula deverá ser corrigida.
Esta professora de Educação Especial, que não quis que o seu nome fosse divulgado, entende que as questões da plataforma não eram claras e que podiam originar interpretações diferentes entre candidatos e directores de escolas. A algumas perguntas, já nem se lembra bem do que respondeu, argumenta que eram dezenas de subcritérios e que a plataforma estava sempre a ir abaixo. Num caso, garante que não pode ter respondido “cinco anos” a uma das perguntas sobre a participação num projecto, porque só o fez em quatro. No entanto, o sistema considerou cinco.
O presidente da Associação Nacional de Professores Contratados, César Israel Paulo, defende que a reabertura da plataforma não vai corrigir este tipo de problemas. E que a história desta professora se vai repetir com outros, uma vez que, argumenta, continua a haver subcritérios que são de confirmação “praticamente impossível”.
Exemplos de subcritérios da lista divulgada: pergunta-se se os professores participaram em projectos de promoção do sucesso educativo; noutros casos pede-se que se contabilize em anos a experiência profissional, incluindo direcções de turma e coordenação de projectos.
César Israel Paulo argumenta que, para responder de forma rigorosa a alguns subcritérios, os docentes teriam de ir às escolas todas onde já deram aulas pedir uma série de comprovativos. “Já passei por 18 escolas. Para ser rigoroso, teria de ir a todas. E em alguns casos, nem há documentos para comprovar. Este concurso é anárquico.”
Mas isto não quer dizer que se oponha à verificação: “A única entidade credível de validação são os directores. Espero que todas as informações sejam confirmadas, por uma questão de equidade. Mas se os directores quiserem ser rigorosos, este concurso não tem fim.”
Filinto Lima, da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas, defende que esta verificação tem de ser feita e que está a ser feita: “No fundo, os directores têm de fazer de juízes. É chato, mas tem de ser. Não vejo outra hipótese”, afirma, defendendo que o ideal seria que esta verificação fosse feita “à nascença”, à partida, mas não sendo, têm de ser os directores a comprovar que todas as respostas dos professores correspondem à verdade.
A professora que falou ao PÚBLICO também lamenta todo o processo. “Nem sei se posso voltar a concorrer a esta escola.” Diz que está “desencantada”. “Nós somos vidas, não somos números.”
O objectivo da BCE, dirigida a docentes sem vínculo, é preencher lugares nas escolas/agrupamentos com contratos de autonomia com a tutela ou integradas em Territórios Educativos de Intervenção Prioritária. A avaliação curricular e a graduação profissional terão cada uma um peso de 50% na ordenação dos candidatos.