Obama obrigado a repetir que soldados no Iraque "não terão missões de combate"
Acções aéreas norte-americanas na região de Bagdad aumentam. Vídeo do Estado Islâmico sugere ameaça de ataque à Casa Branca.
“As forças americanas que foram deslocadas para o Iraque não têm e não terão missões de combate”, disse Barack Obama, que, esta quarta-feira, se encontrou com o comandante militar para o Médio Oriente e Ásia Central, general Lloyd Austin.
A declaração de Obama somou-se a uma primeira reacção da Casa Branca e destinou-se a travar especulações sobre uma afirmação feita na terça-feira pelo chefe de Estado Maior. O general Martin Dempsey afirmou então que os conselheiros militares norte-americanos poderiam ser destacados para papéis “na frente de combate” ao Estado Islâmico (EI). “Se chegarmos a um ponto em que eu considere que os nossos conselheiros devem acompanhar as tropas iraquianas na sua ofensiva contra alvos do Estado Islâmico, é isso que recomendarei ao Presidente”, disse Dempsey, citado pelas agências.
Logo na terça-feira, a Casa Branca apressou-se a fazer a sua leitura das declarações. O porta-voz Josh Earnest insistiu que o envolvimento de norte-americanos em combates terrestres não está na ordem do dia e que as declarações do general tiveram por base um “cenário hipotético” no qual formularia uma “recomendação táctica” ao Presidente. Obama, sob cuja liderança os Estados Unidos retiraram em 2011 as suas forças do Iraque, tem repetido que não enviará soldados para lutarem no solo.
O próprio porta-voz de Dempsey, coronel Ed Thomas, também se pronunciou dizendo que o general falava sobre “a maneira” de fazer o “aconselhamento dos iraquianos” e não sobre a participação directa de unidades americanas em combates terrestres. O chefe de Estado Maior “não pensa que haja necessidade militar de os nossos conselheiros acompanharem no combate os soldados iraquianos”, garantiu.
O aumento dos ataques aéreos a alvos do EI foi confirmado pelo exército iraquiano e por chefes tribais citados pela AFP. Caças norte-americanos, disseram, mataram pelo menos quatro jihadistas em acções de apoio a militares iraquianos que desde terça-feira combatem no sector de Faadhiliya, menos de 50 quilómetros a Sul da capital. Fontes dos serviços de segurança iraquianos disseram à Reuters que forças terrestres iraquianas passaram também à ofensiva em três cidades do centro: Ramadi, Falluja e Haditha.
A aviação norte-americana tem atacado alvos jihadistas desde a segunda semana de Agosto no Norte e Ocidente do Iraque, mas depois de Obama ter anunciado uma estratégia para “desgastar, derrotar e por fim destruir” a organização islamista, esta passou também a ser atingida em posições próximas de Bagdad.
Um vídeo atribuído ao EI entretanto divulgado, em estilo de trailer do que poderá ser visto “brevemente”, inclui imagens de destruição, um homem mascarado aparentemente a preparar-se para executar prisioneiros ajoelhados, e imagens da Casa Branca filmadas de um carro em movimento. As imagens estão a ser interpretadas como uma ameaça de ataque à Presidência dos Estados Unidos.
"Ataques aéreos não bastarão"
A complexidade da luta contra o EI foi confirmada por outro general dos Estados Unidos, Ray Odierno, que comandou as forças no Iraque, entre 2008 e 2010. Em declarações, citadas pela Reuters, a um grupo de jornalistas, em Wiesbaden, na Alemanha, disse que ataques aéreos não bastarão para destruir os islamistas e que o Governo de Bagdad terá de treinar forças terrestres para “os perseguirem e erradicarem”. Considerando “muito decepcionante” o que tem acontecido no Iraque admite que teria sido melhor manter forças de combate norte-americanas no país.
“Eles são uma ameaça regional e acredito que são uma potencial futura ameaça à Europa e aos Estados Unidos, por isso é importante enfrentar esta ameaça com os nossos parceiros internacionais”, declarou também Odierno.
Os Estados Unidos continuam a procurar dar forma à anunciada “coligação internacional” para “destruir o EI”. O secretário de Estado, John Kerry, não se tem poupado a esforços para formar uma aliança de natureza diferente da que apoiou as invasões do Iraque em 1991 e 2003, mas o seu trabalho não tem sido fácil. Como observa a Reuters, os apoios que cerca de quatro dezenas de países estão dispostos a dar são, sobretudo, de natureza logística, de fornecimento de equipamento e de carácter humanitário.
Na Síria, onde, tal como no Iraque, o EI ocupa importantes áreas de território, a guerra prossegue. Segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos, bombardeamentos da aviação do regime de Bashar al-Assad a Talbissé, bastião rebelde na província de Homs, mataram nos últimos dois dias cerca de 50 pessoas.