“Espiões” de unidade de elite israelita recusam participar em “abusos” contra palestinianos

Carta assinada por 43 oficiais e militares na reserva critica métodos de espionagem usados por Israel.

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Os 43 "refuzniks" podem vir a ser julgados por um tribunal militar Finbarr O'Reilly/Reuters

Numa carta enviada ao primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, e ao chefe de Estado-maior, Benny Gantz, os 43 militares protagonizam uma das mais fortes objecções de consciência dos últimos anos em Israel. Extractos da carta foram publicados nesta sexta-feira no jornal Yediot Aharonot.

Os 43 signatários, homens e mulheres, serviram na unidade 8200, o serviço de informação militar mais conceituado do exército israelita. Especializada em ciberdefesa, a unidade 8200 é muitas vezes comparada à NSA (National Security Agency) americana. Sendo reservistas, estes 43 militares podem ser chamados a servir a qualquer momento. O Yediot Aharonot sublinha que, na carta, não é claro se os signatários se vão recusar a servir se considerarem que determinadas ordens são imorais, ou se tencionam não servir nunca mais e em quaisquer circunstâncias. Qualquer uma das hipótese pode levá-los a um tribunal marcial e a uma prisão militar. O jornal não divulgou os seus nomes.

Na carta, os signatários recusam-se “a ser instrumentos para reforçar o regime militar nos territórios ocupados” e não querem “continuar a servir este sistema que viola os direitos de milhões de pessoas”.

Nenhum dos testemunhos destes "refuzniks" (termo que designa os israelitas que recusam servir nas forças armadas) está relacionado com a ofensiva de Julho e Agosto contra a Faixa de Gaza.

A carta refere-se aos métodos de espionagem usados por Israel como “uma parte inseparável do controlo militar dos territórios” e denuncia que muita informação recolhida prejudicou palestinianos inocentes e foi utilizada para perseguições políticas e para criar divisão na sociedade palestiniana através do recrutamento de colaboradores. 

“A espionagem permite o controlo permanente de milhões de pessoas e o conhecimento profundo da vida dessas pessoas, mesmo dos seus aspectos mais íntimos", continua a carta. “Nada disto permite uma vida normal, o que alimenta ainda mais a violência e afasta para cada vez mais longe uma solução do conflito”

Para terminar, os signatários fazem um apelo “a todos os soldados que servem actualmente nesta unidade ou que querem servir na 8200, a todos os cidadãos de Israel, a fazerem ouvir as suas vozes contra estes abusos e a agir para que acabem”.

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