A marcar o ponto
O novo Woody Allen tem pouco de novo – uma comédia agradável que parece feita em piloto automático.
recicla abertamente as coordenadas de dois dos seus filmes menores recentes — o meio do ilusionismo que servia de pano de fundo a
A Maldição do Escorpião de Jade(2001) e a
Scoop(2006) — com um olhinho posto no
Pigmaliãode George Bernard Shaw (quase jurávamos que Colin Firth baseou o seu ilusionista narcisista no professor Higgins tal como Rex Harrison o imortalizou na versão musical
My Fair Lady). Não é um filme atípico do realizador, porque a questão central que norteia o guião é o eterno diálogo entre fé e razão, crença e pragmatismo – e parte da graça vem do confronto, muito
screwball, entre Sophie, a encantadora americana a que Emma Stone dá luminosa vida, e Stanley, o resmungão resolutamente materialista que Firth encarna como um
gentlemaninglês da velha escola. Há, contudo, um “mas”: apesar da pontaria no elenco (Firth e Stone são um casal pouco óbvio mas estão impecáveis, e a veterana Eileen Atkins é extraordinária no único dos papéis secundários com um mínimo de peso), e apesar da fotografia luxuosa de Darius Khondji,
Magia ao Luar
está longe de ser um Allen
vintage. Preguiçoso na encenação, previsível no argumento, surpreendentemente anónimo no modo como o écrã panorâmico e os movimentos de câmara parecem estar lá mais para “encher o olho” do que porque a história o peça, este é mais um Allen em “piloto automático”. Suficientemente despretensioso e agradável para se ver sem fastio; e isso só é um problema porque continuamos sempre a esperar de Woody Allen que não se limite a “marcar o ponto”.