Quadradinhos pelas ondas sonoras
Em Janeiro de 1924, a BBC assegurou, com um jogo de râguebi, o primeiro comentário ao vivo na história dos eventos desportivos britânicos
A cobertura mediática internacional de râguebi deu um passo de gigante em Janeiro de 1924, quando o capitão Teddy Wakelam, ex-jogador dos Harlequins, assegurou o primeiro comentário ao vivo na história dos eventos desportivos britânicos.
A iniciativa coube à emissora radiofónica BBC, que planeava alargar a sua cobertura desportiva e se propunha replicar em terras de Sua Majestade o sucesso que os norte-americanos vinham tendo com as emissões externas sobre grandes provas. A rádio convidou Wakelam para comentador, ele aceitou, pediram-lhe um teste de voz e, no espaço de duas semanas, o ex-capitão dos Harlequins descobriu-se pendurado num canto do Estádio de Twickenham, a descrever um Inglaterra-País de Gales. Único requisito que lhe pediram que cumprisse: “Não dizer palavrões”.
Em termos práticos, a tarefa exigia um conhecimento detalhado das condições do terreno e, por isso mesmo, Wakelam e uma equipa de produção da BBC visitaram o estádio alguns dias antes do jogo. Foi nessa visita que surgiu a ideia de, além do relato falado, também se “fazer o desenho” do jogo para os ouvintes da rádio.
Como? O campo foi dividido em oito quadrados, o assistente da emissão identificava em som de fundo a que secção é que Wakelam se referia em cada jogada e, como os jornais de sábado e o Radio Times publicavam esse “desenho” nas edições do dia da prova, quem acompanhava o jogo a partir de casa podia seguir o trajecto da bola pelo quadriculado enquanto o comentador se concentrava no nome dos jogadores e na descrição dos passes.
Wakelam não desiludiu e a primeira emissão radiofónica do râguebi britânico também não. Foi assim que a modalidade chegou a casa dos adeptos que, de outra forma, não podiam acompanhar os jogos ao vivo e tinham que esperar pelos jornais do dia seguinte para descobrirem como decorrera a partida.
Quanto ao papel do Jornalismo nessa história, foi Bernard Darwin, crítico do Times, que deixou o anúncio: “Com o correr dos tempos, todos os desportos e principais actividades ao ar livre serão relatados assim”.
A partir do livro "Rugby Strangest Matches", de John Griffiths