Reitoria da UL cancela concurso para o Teatro da Politécnica e abre um novo
A qualidade do projecto teatral apresentado pelas candidaturas é agora um factor de decisão. Os Artistas Unidos estão a avaliar as suas possibilidades.
O cancelamento do concurso aberto a 8 de Agosto “nada teve a ver com qualquer movimentação pública nesse sentido”, disse ao PÚBLICO António Sobral, da reitoria da Universidade de Lisboa (UL), referindo-se à carta aberta e à petição pública de apoio aos Artistas Unidos. “Constatou-se a necessidade de se tornar o caderno de encargos mais preciso”, com “a necessária ponderação qualitativa das propostas", explica.
No anterior caderno de encargos, o factor de decisão entre as candidaturas era a proposta de renda para o espaço. No novo concurso, as contrapartidas financeiras para a UL valem 50% da decisão. A qualidade da proposta – que é calculada através da qualidade dos textos e dramaturgias e da coerência da programação – pesa 30% na escolha entre as candidaturas; o número anual de espectáculos vale 10%, assim como a percentagem de redução dos preços de bilhetes para a comunidade da UL – estudantes, investigadores, funcionários, professores.
“Estamos neste momento a estudar o novo caderno de encargos e as nossas possibilidades”, disse ao PÚBLICO Jorge Silva Melo, encenador e fundador dos Artistas Unidos, remetendo mais declarações para o fim do mês.
Pedro Jordão, do colectivo informal que apoia a petição “Em defesa do projecto cultural dos Artistas Unidos”, disse em nota de imprensa que este é um “recuo por parte da reitoria da UL”, embora “insuficiente”, já que a “diminuição do espaço [contemplado no concurso] mantém-se e representa uma grande perda para o projecto – acaba-se o programa de exposições e perdem-se as essenciais oficinas”. Pedro Jordão diz ainda que “as contrapartidas financeiras permanecem excessivamente elevadas, tendo em conta que a diminuição da renda se limita a acompanhar a redução do espaço, mas acrescenta encargos com a segurança”.
O concurso aberto pela reitoria da UL põe em risco a permanência no Teatro da Politécnica dos Artistas Unidos, companhia teatral fundada pelo encenador Jorge Silva Melo, em 1995. A razão para a não renovação do contrato é a dívida de 68 mil euros de rendas em atraso, explicou na semana passada ao PÚBLICO o reitor da UL, António Cruz Serra. “Não faz sentido manter um contrato que não é honrado”, disse, acrescentado que “naturalmente os Artistas Unidos poderão apresentar-se a este concurso, como aliás já foram informados”.
A decisão deu origem à "carta aberta em defesa do projecto cultural dos Artistas Unidos", dirigida ao reitor da UL e assinada por 74 artistas e personalidades ligadas às artes. Esta carta levou a uma petição pública com o mesmo nome e que foi terça-feira entregue na reitoria da UL com cerca de 2700 assinaturas.