PT manda investigar a fundo ligações ao Grupo Espírito Santo e Granadeiro demite-se

Gestor renuncia às funções na PT e diz que não convive bem “com os encargos e responsabilidades de outros”. Administração diz que não sabia dos investimentos na Rioforte e contrata auditor externo.

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Henrique Granadeiro tem estado debaixo de fogo por causa do investimento em empresa do Grupo Espírito Santo Daniel Rocha

Num comunicado enviado à CMVM, a administração da PT diz que nem o conselho, nem a comissão executiva, “aprovaram ou discutiram” os investimentos na Rioforte, mas querem o tema investigado a fundo. Entre outros aspectos, a administração quer saber se houve alguma irregularidade na forma como os investimentos na Rioforte foram reportados aos órgãos de liderança, apurou o PÚBLICO.

O comunicado da PT nada refere quanto ao período temporal que deverá ser abrangido pela auditoria, mas o PÚBLICO sabe que estão em causa as relações financeiras com o BES e o GES (que remonta a 2000, quando as duas empresas assinaram uma parceria estratégica e trocaram participações accionistas) nos últimos anos e não apenas os financiamentos de 900 milhões de euros que causaram a polémica. Actualmente a PT tem 2% do “BES mau” e o “BES bom” tem cerca de 10% da PT.

Granadeiro, que tem estado debaixo de fogo desde que se tornou pública a aplicação da PT em papel comercial da Rioforte (holding não financeira do GES - Grupo Espírito Santo), sai, mas deixa recados. “Convivo bem com os meus actos, mas não com os encargos e responsabilidades de outros”, escreve Granadeiro na carta de renúncia enviada ao conselho de administração e a que o PÚBLICO teve acesso.

Até à data, só Henrique Granadeiro e Luís Pacheco de Melo (administrador financeiro da PT) têm sido associados ao investimento na Rioforte. Mas agora o presidente cessante espera que a auditoria encomendada pelo conselho de administração da PT venha fazer-lhe justiça. “Estou seguro que a auditoria externa e independente (…) evidenciará os processos e as causas do incidente e demonstrará que sempre agi no melhor interesse da Portugal Telecom”, escreve o gestor.

A notícia da demissão de Granadeiro foi adiantada pelo Jornal de Negócios e confirmada uma hora e meia mais tarde pela PT em comunicado enviado à CMVM. Mas esse é parco em relação a palavras sobre a actuação do presidente cessante. “O Presidente do Conselho de Administração e da Comissão Executiva da PT, Dr. Henrique Granadeiro, informou hoje o Conselho de Administração que, tendo conduzido todos os trabalhos necessários para garantir a convocação de uma AG e toda a informação aos accionistas, apresentou a sua renúncia de todas as funções que detém no Conselho de Administração”, lê-se no comunicado da PT.


Já Granadeiro assegura que, “desde a primeira hora”, desde que foi “surpreendido com a situação de incumprimento generalizado das obrigações do BES para com a PT no quadro da implosão” do GES, entendeu dever “assumir o encargo de evitar ou minorar” as consequências do default do GES na avaliação patrimonial da PT “e na continuidade do processo de fusão com a Oi”.

E nesse âmbito o gestor assegura que “defendeu até ao limite os interesses do grupo”, em particular da PT SGPS, “desenvolvendo todas as diligências necessárias ao cumprimento pelo BES – e não só pela Rioforte – das obrigações e compromissos assumidos” quer perante a PT, quer pela Oi. Mais recados.

A fim de “deixar plena liberdade” à administração da empresa para “conduzir os trabalhos preparatórios” da assembleia-geral de accionistas (onde serão votados os termos do novo acordo anunciado a 16 de Julho para salvar a fusão com a Oi), Granadeiro sai. Mas pelo meio, fica outro recado: “Entendo que devo renunciar ao cargo de presidente do CA, seguindo a recomendação da CE da Portugal Telecom SGPS”, escreve o ex-chairman da PT.

Depois da saída de Henrique Granadeiro, o conselho de administração da PT é composto por Luís Pacheco de Melo, Alfredo Baptista, Carlos Alves Duarte, Manuel Rosa da Silva, Pedro Leitão, Shakhaf Wine (que são administradores executivos), Francisco Soares, Gerald McGowan, João Mello Franco, José Basto, Helena Nazaré, João Matos Gomes, Milton Vargas, Nuno Vasconcellos, Rafael Mora (ambos em representação da Ongoing) e Paulo Varela (Visabeira).

Estes responsáveis vieram “clarificar” na nota enviada ontem ao supervisor da bolsa “que, em relação às aplicações de tesouraria na Rio Forte Investments S.A. (“Rioforte”), nem o Conselho de Administração nem a Comissão Executiva da PT aprovaram ou discutiram, antes das notícias veiculadas na comunicação social no final de Junho, essas aplicações”.

Por esse motivo, o CA PT “mandatou directamente a PriceWaterhouseCoopers(PwC) para analisar, de forma independente, os procedimentos e actos relativos a este assunto até à data”. O PÚBLICO sabe que a comissão de auditoria da operadora de telecomunicações, encabeçada por João Mello Franco, está também a concluir um relatório sobre estes investimentos.

A notícia da auditoria foi avançada pelo Expresso, que deu conta de um pedido de auditoria forense, o tipo específico de auditoria destinado a perceber se há algum indício de crime. Segundo o Expresso, o objectivo do conselho de administração da PT é perceber se houve alguma irregularidade nas aplicações de tesouraria realizadas pela empresa no GES ao longo destes anos. A administração da PT nunca refere o termo forense, mas esta não é uma auditoria corrente, destinada a validar as contas que são apresentadas aos accionistas. As auditorias forenses realizam-se quando há dúvidas ou situações que levantam suspeitas que precisam de ser esclarecidas, que é o que o conselho de administração pretende.

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