Português viajou da Libéria para Lisboa com “zero perguntas” sobre ébola

Último balanço da Organização Mundial de Saúde aponta para 887 mortos.

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Só na Libéria estima-se que o vírus tenha infectado 468 pessoas, 255 das quais morreram REUTERS/Samaritan's Purse

Este engenheiro de máquinas de 29 anos a trabalhar na Libéria há um ano chegou a Portugal no dia 26 de Julho. O seu voo partiu da capital, Monróvia, e fez escala em Bruxelas antes de aterrar em Lisboa. Apesar de os países terem anunciado um reforço do controlo aeroportuário para tentar estancar o vírus na África Ocidental, Carlos fala em “verdadeiro show-off”. Mas ressalva que está de consciência tranquila, já que tomou sempre as precauções devidas quando estava na Libéria. Vive na capital, onde a situação está mais tranquila, e nas deslocações pelo país teve sempre cuidados redobrados.

“O sentimento que nós temos é de que podemos apanhar o ébola, mas obviamente tomando certos riscos e facilitando certas situações, como cumprimentos com beijos e apertos de mão. É preciso usar ao máximo o desinfectante sanitário e lavar as mãos com frequência”, descreve Carlos, que aponta que o pior problema é na zona interior da Libéria, onde os rituais nos funerais são fonte de preocupação. “É quando o corpo está morto que o ébola tem mais expressão e obviamente as pessoas que lavam o corpo dos mortos ficam em mais risco e depois quando vêem para as cidades aumentam exponencialmente a possibilidade de contagiar alguém”, justifica.

“Penso que muitas das precauções [no terreno e nos aeroportos] foram tomadas já depois do meu regresso a Portugal. Mas o surto já existia, só espoletou mais agora para a comunidade internacional pelos americanos retirados na Libéria”, acrescenta Carlos, em referência aos dois voluntários norte-americanos contagiados pelo vírus na zona liberiana onde trabalhavam e que foram levados para os Estados Unidos.

Nancy Writebol, de 59 anos, escreve a Reuters, à semelhança do seu colega Kent Brantly, chegará nesta terça-feira ao Hospital Universitário de Emory, em Atlanta. A viagem foi feita em separado uma vez que estão a ser transportados num avião com condições para isolar o doente, mas que só tem capacidade para uma pessoa nesta situação. Os dois infectados pertenciam à organização não-governamental (ONG) SIM USA, que optou por retirar os restantes voluntários do terreno. As autoridades liberianas decidiram entretanto, para controlar o vírus, destacar militares para as zonas do país mais afectadas para colocarem em vigor uma espécie de quarentena nas comunidades onde há mais casos.

“Como estava tudo controlado vim de férias programadas e tenciono voltar para a Libéria, mas preocupa-me que não haja nenhum controlo e que o voo tenha sido absolutamente normal”, reforça Carlos. Quanto à situação dentro da Libéria, assegura que o ambiente nas ruas não está muito diferente e que são poucos os sinais de protecção entre a população, salvo as campanhas de sensibilização feitas pelas ONG que trabalham naquela zona. “Tive o caso de um cliente com o qual trabalhamos em que algumas pessoas por iniciativa própria decidiram usar luvas e máscaras, mas nada de transcendente. Também não tenho conhecimento de empresas que estejam a retirar de lá pessoas, há é quem evite enviar expatriados neste momento”, afirma.

O mais recente balanço da Organização Mundial de Saúde tinha sido feito a 27 de Julho e apontava para um total de 1300 casos, 729 dos quais mortais. O país mais afectado é a Guiné-Conacri, onde surgiu o maior surto de sempre da febre hemorrágica, com um total de 485 casos e 358 mortos. Segue-se a Serra Leoa com 646 casos (273 mortais), a Libéria com 468 (255 mortais) e a Nigéria com quatro infecções e um morto.

(A pedido do entrevistado o nome utilizado é fictício para protecção da sua identidade)

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