Orhan Pamuk é o vencedor do Prémio Europeu Helena Vaz da Silva
O vencedor do Prémio Nobel da Literatura 2006 é distinguido agora pelo Centro Nacional de Cultura pela promoção dos valores europeus e da dignidade humana através das suas obras
O prémio tem o valor de 10 mil euros e quer distinguir aqueles que deram “contribuições excepcionais para a divulgação do património cultural e dos ideais europeus”. Depois de ter escolhido o italiano Claudio Magris na sua primeira edição em 2013, escolhe agora um autor turco.
Orhan Pamuk, vencedor do prémio Nobel da Literatura em 2006, tem uma “forma original” de “dar vida aos valores e ideais europeus e promovê-los além-fronteiras através da sua obra literária, profundamente enraizada na história e na cultura do seu país, a Turquia”, diz Guilherme D’Oliveira Martins, presidente do júri, no comunicado de imprensa.
Para o júri foi relevante que o autor que estudou jornalismo e arquitectura não seja “apenas um dos maiores escritores contemporâneos”, mas também “um cidadão activo, que tem feito esforços notáveis para promover o rico legado multicultural da Europa, com Istambul como uma das suas mais icónicas cidades”, acrescenta o presidente do painel de jurados composto por João David Nunes, Membro da Direcção do Clube Português de Imprensa, Irina Subotic, Vice-Presidente da Europa Nostra, Francisco Pinto Balsemão, presidente do Grupo Impresa, José-María Ballester, antigo Director Património Cultural Conselho da Europa, Marianne Ytterdal, Membro da Direção Europa Nostra, e Piet Jaspaert, Membro da Direção Europa Nostra.
Da obra de Pamuk, que viveu a maior parte da sua vida em Istambul, o júri destacou O Museu da Inocência (2008, ed. Presença), Istambul: Memórias de uma cidade (2003, ed. Presença) e O Livro Negro (1990, Companhia das Letras) –obras que mostram esta cidade como “mágica e melancólica e onde o Oriente e o Ocidente se encontram de uma forma tão dramática”, diz o mesmo comunicado.
No caso de O Museu da Inocência, Istambul dos anos 70 é “património cultural imaterial, evocando memórias, crenças, emoções, relações familiares e de amizade através de objectos da vida quotidiana” e isto acabou por ganhar vida nesta cidade quando em 2012 se inaugurou o Museu da Inocência.
Este museu que mostra alguns objectos datados que o autor foi coleccionado ao longo dos anos – tal como a personagem deste livro - ganhou o Prémio Museu Europeu do Ano em 2014. Sobre o que significam estes artefactos que juntou, Pamuk disse em 2010 ao PÚBLICO, "Os turcos adoravam gabar-se de serem os primeiros a terem uma batedeira eléctrica ou um abre-latas ou uma máquina de barbear eléctrica. Traziam da Europa, entusiasmados, máquinas para fazer maionese - só para descobrirem que não havia peças sobressalentes na Turquia, pelo que estes grandes símbolos do novo tornavam-se, muito rapidamente, relíquias."
“O Museu da Inocência em Istambul é um exemplo extraordinário de compreensão do novo conceito de património cultura. Liga a defesa dos monumentos ao património imaterial e à criação contemporânea”, disse Guilherme D’Oliveira Martins ao PÚBLICO acrescentado que a candidatura do Nobel “demonstra o prestígio internacional do Prémio Europeu Helena Vaz da Silva”.
O contributo de Orhan Pamuk para a identidade e participação Europeia está também nas suas posições políticas que toma, em especial a partir da segunda metade dos anos 1990, quando se assume crítico do governo turco – afirma-o em diversos artigos sobre direitos humanos e liberdade de expressão em jornais e revistas. Em 2002 publica Neve (ed. Presença), que diz ser o seu primeiro e último romance político. Mais tarde, em 2006, o escritor turco mais lido internacionalmente esteve à beira de ser levado a julgamento no seu país por causa de declarações que fez sobre a situação da população curda na Turquia e sobre o genocídio da população arménia durante a fase final do Império Otomano. Na altura, o quase julgamento de Pamuk causou mal-estar nas negociações para a entrada do país na EU.
“É a dignidade humana que está no centro da acção cívica de Orhan Pamuk. Por outro lado sensibiliza a opinião pública para os direitos e deveres ligados ao património com factor de paz, de humanidade, de compreensão, respeito e entendimento”, afirma Oliveira Martins ao PÚBLICO.
Em reacção à atribuição deste prémio, o escritor disse-se honrado. “Acredito profundamente nos princípios e motivações deste Prémio”, afirmou em nota de imprensa.
O Prémio Europeu Helena Vaz da Silva é atribuído anualmente pelo CNC em colaboração com a organização europeia para o património Terra Nostra e com o Clube Português de Imprensa, “a um cidadão europeu cuja carreira se tenha distinguido pela difusão, defesa e promoção do património cultural da Europa”.
A menção honrosa atribuída a José-Augusto França deve-se à sua carreira internacional, em que tem "escrito inúmeras obras e fomentado a tomada de consciência e o sentimento de orgulho relativamente à arte portuguesa, relacionando-a com a cultura europeia e mundial”.
Pieter Steinz foi premiado pelo inventário de ícones culturais europeus que tem vindo a criar no jornal holandês NRC Handelsblad e no blogue Made in Europe - The Cultural Icons That Unite Us. “Esperamos que este reconhecimento europeu possa estimular a tradução e maior divulgação deste trabalho fundamental, sobretudo numa altura em que a Europa precisa de uma nova narrativa com uma dimensão cultural mais forte”, lê-se no comunicado.