Álvaro Siza doa acervo à Gulbenkian, Serralves e ao Centro Canadiano de Arquitectura

Arquitecto privilegiou também fundações portuguesas. Governo congratula-se com "solução que serve os interesses nacionais" e garante "promoção internacional da obra".

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Adriano Miranda

"É meu desejo que o trabalho de tantos anos seja de algum modo útil, como contribuição para o estudo e debate sobre a arquitectura, particularmente em Portugal, numa perspectiva oposta ao isolamento (como já hoje sucede e é imprescindível)", pode ler-se num comunicado enviado à agência Lusa.

De acordo com o arquitecto do Pavilhão de Portugal, a opção passou por doar parte "a duas instituições portuguesas, já com experiência, qualidade e capacidade para desenvolver ou alargar os respectivos arquivos (Fundação Gulbenkian e Fundação de Serralves), numa perspectiva de abertura à consulta, divulgação e participação num debate que já não é simplesmente nacional, nem centrado no individual".

Álvaro Siza decidiu doar outra parte do seu arquivo ao Centro Canadiano de Arquitectura (CCA) em Montreal, "instituição de experiência e prestígio ímpares e com intensa e contínua actividade", que é "reconhecida pela sua experiência na preservação e apresentação de arquivos internacionais", diz o arquitecto.

No comunicado, o prémio Pritzker 1992 explica ainda que o CCA vai tratar de "uma grande parte" do arquivo, que "estará acessível, em conjunto com o trabalho de outros arquitectos modernos e contemporâneos". O Centro canadiano é uma das mais prestigiadas instituições mundiais da arquitectura, e possui já no seu museu e centro de documentação espólios e acervos de outros arquitectos de renome, como Aldo Rossi, Peter Eisenman ou James Stirling.

"Conforme conversações já efectuadas, o CCA estará disponível para colaborar com a Fundação Gulbenkian e a Fundação de Serralves na catalogação consistente do material e na partilha da pesquisa e programação relacionadas", acrescenta Siza.

Na noite de quarta-feira, o secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier, congratulou-se "com a decisão do arquitecto", adiantando em comunicado enviado às redacções "que esta é uma solução que serve os interesses nacionais e garante, ao mesmo tempo, a promoção internacional da obra do mais importante arquitecto português da sua geração". 

De acordo com o arquitecto nascido em Matosinhos em 1933, o vereador da Cultura da Câmara do Porto, Paulo Cunha e Silva, manifestou-lhe a intenção de instalar uma galeria de exposições sobre a arquitectura da cidade, constituída em particular por maquetas. "Comuniquei-lhe o meu apoio a esse propósito, considerando a relevância do projecto para pública informação e debate sobre a arquitectura", enfatizou Siza.

O arquitecto do Museu de Serralves explica ainda, na sua nota, que nos últimos anos sentiu a necessidade de organizar o arquivo do seu trabalho, procurando "uma solução que considerasse fundamentada", tendo verificado "existir um interesse evidente por parte de pessoas e instituições".

"Desenhos e maquetes do meu arquivo encontram-se já, alguns desde há anos, em Paris (Beaubourg), em Nova Iorque (MoMA) e em Londres (Niall Hobhouse Collection), nos respectivos arquivos de arquitectura", recorda ainda Siza. 

A notícia de que o arquitecto estava a "negociar" a transferência do seu arquivo com esta instituição canadiana, e também com outras instituições portuguesas, surgida na semana passada, motivou apreensão nos meios nacionais da arquitectura. Se havia consenso quanto ao direito que o arquitecto do Museu de Serralves tinha de dispor, como bem entendesse, dos testemunhos do seu trabalho, havia também a preocupação de que o seu arquivo saísse de Portugal. Siza parece ter optado por contentar todos, escolhendo, entre nós, depositar partes do seu acervo em Serralves (Porto) e na Gulbenkian (Lisboa), mas também fazendo-o representar também no CCA, naquela que é uma das grandes instituições internacionais no campo da arquitectura. com Lusa 

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