Paulo Carvalheiro é professor de Educação Visual em Boliqueime, Loulé. Começou a ir para a escola sozinho. Depois, um aluno quis acompanhá-lo. Agora já são quinze alunos que chegam à escola todas as manhãs de bicicleta.
Os seus melhores momentos de bicicleta são de manhã, quando pedala por uma estrada secundária, o sol a iluminar a paisagem de cores douradas, a brisa fresca a bater na face e a ouvir o cantar dos pássaros. Por isso, acha que a melhor forma de melhorar os seus percursos diários seria ver mais gente a pedalar para os seus trabalhos, de forma descontraída. Acha que ainda existe muita gente a ver a bicicleta como uma máquina de treino para atletas ou então como um brinquedo para mostrar aos amigos.
O que te levou a começar a usar a bicicleta para te deslocares?
A paixão pela bicicleta já vem desde da minha infância. Um dos dias mais importantes foi quando o meu pai me presenteou com uma linda bicicleta laranja. Foi com ela que aprendi a pedalar e a sentir o vento nos cabelos. Mais tarde, durante a minha adolescência, significava transporte, liberdade, aventura, amigos e felicidade. Em 1989 vi pela 1.ª vez uma bicicleta estranha a subir uma íngreme subida na costa Vicentina. Aí, nasceu uma nova paixão com a bicicleta, mais concretamente a bicicleta de montanha, ou seja BTT. Em 1995, veio a possibilidade de criar um grupo de BTT com os jovens da minha escola, pelo Desporto Escolar. Desde então e até hoje tenho sido o “culpado” de pôr muitos jovens a pedalar por estas bandas.
De que formas usas a bicicleta à sexta-feira?
Casa – trabalho, por vezes com um regresso diferente, de maior distância. Serve para libertar o stress e a tensão de um dia de trabalho. Assim, chego a casa com um sorriso de felicidade.
Como te deslocavas antes?
De automóvel.
Que tipo de bicicleta ou equipamento?
Depende do dia, do estado de espírito ou então das necessidades desse dia. Pode ser uma simpática dobrável, que faz o trajeto, de 6 km, de forma honesta e deliciosa. Tem grelha e alforges. É uma valente. Mas, também pode ser uma bicicleta de montanha. Desde que permita percorrer a mesma distância de forma confortável. No final do dia, existe sempre um regresso por trilhos e caminhos, em cenários bem mais naturais, quase selvagens. Muito bom para reequilibrar as baterias da motivação. A terceira possibilidade é uma bicicleta de ciclocross. É a mais rápida. Quando o tempo é mais curto para chegar ao trabalho ou quando o nosso “menino interior” grita por liberdade. Aí ela leva-me até aquele local bem longe e traz-me em segurança até casa.
Existem alguns mitos (sobre a utilização da bicicleta) que tenhas vencido?
Gosto de pedalar quando o tempo está simpático. Não necessariamente tem que estar um dia de sol brilhante. Agora, com chuva não! Nessas condições continuo a gostar do conforto do automóvel…
Uma pessoa da praça pública que gostarias de ver a andar de bicicleta e porquê?
Uma pessoa que eu gostaria de ver pedalar numa cidade qualquer era o Carlos Barbosa, presidente do ACP (Automóvel Clube de Portugal). Provavelmente este desejo não passará disso mesmo. Mas acredito que o efeito mediático dessa nova atitude teria como consequência uma substancial melhoria no relacionamento automóvel – bicicleta. Por sua vez, um aumento da segurança rodoviária, bem como um aumento nas atitudes de respeito/cuidado com os meios de transportes mais vulneráveis.
O que tens a dizer a quem diz que andar de bicicleta na tua cidade é impossível?
Quando alguém utiliza a palavra “impossível”, nem sempre é fácil fazer com que veja outras realidades/cenários senão o mais negativo. Daí, que não perderia muito tempo a argumentar e gastando a minha energia. O mais provável, seria convidá-lo, desafiá-lo para um pequeno passeio de bicicleta. Uma volta calma de bicicleta potencia a experiência real e consegue limpar medos e cenários mais negros. Bem como, é um estímulo à conversa.