No dia seguinte Yann escreveu-lhe pela primeira vez e nunca mais parou, durante cinco anos até 1980, ano em que ela lhe respondeu pela primeira vez, enviando-lhe Homme assis dans le coulouir. Ele não sabia o que pensar do livro e não lhe respondeu.
Ela enviou novo exemplar, pensou que o outro se perdera. Ele passou pela casa dela de Paris, mas não teve coragem. Ela, mais tarde, escreveu-lhe a dizer que esteve doente por causa do álcool, que leu todas as cartas que ele lhe escrevera.
Em Julho ele ganhou coragem, telefonou-lhe e ela pediu-lhe que fosse ter com ela. Ela tinha 66 anos, ele 28 e era homossexual. Viveram juntos desde 29 de Julho de 1980 até 3 de Março de 1996, dia da morte da escritora. Dezasseis anos.
Em Aquele Amor (Cet Amour-Là que foi publicado em França em 1999 e adaptado ao cinema por por Josée Dayan) Yann Andréa contava tudo isto. Tal como Margarite Duras já o tinha feito no livro Yann Andréa Steiner (ed. Livros do Brasil): "Depois do filme, um debate em que tu participaste. Depois do debate fomos a um bar com o grupo dos jovens estudantes de Filosofia a que tu pertencias. Depois, muito tempo depois, foste tu a lembrar-me da existência desse bar, elegante, agradável, e também que nessa noite eu tinha bebido dois uísques. (…) Foi depois dessa noite que me começaste a escrever cartas. Muitas cartas. Às vezes era uma por dia."
Aquele Amor, o segundo livro de Andréa, é a sua obra mais famosa. O primeiro,
M. D., saiu em França em 1983, e foi escrito durante um período em que Duras tinha crises de alucinação num hospital. Na adaptação de
Aquele Amorao cinema Marguerite Duras é interpretada por Jeanne Moreau e Yann Andréa por Aymeric Demarigny. O livro é uma longa carta a uma morta (Duras). Uma morta que continua presente na vida desse homem que foi inventado por ela (Yann) e que a seguir à morte dela ficou sem vida para além da dela.
Yann Andréa, no livro, recorda uma viagem a Portugal que fizeram juntos. "Estamos em Lisboa. É uma retrospectiva dos filmes Duras. É a minha primeira saída oficial com ela. Não sei onde enfiar-me. Não me apresenta a ninguém, não diz nada, deixa-me para ali plantado. Recepção na embaixada de França. Ao chegar, ela dá O Verão de 80 ao embaixador, e diz: está a ver, é ele o Yann Andréa, o livro é-lhe dedicado. O embaixador cumprimenta-me. Apetecia-me deixar tudo. Partir. Não estar ali. Durante o jantar, alguém me pergunta o que faço. Não sei o que responder e depois digo: nada. Ela está sentada ao lado do embaixador do outro lado da mesa e ouve a palavra: nada. Diz em voz alta: é formidável o que acabou de dizer, é preciso que não se esqueça disso. Já não sei para quem olhar, como comer. Ela continua a falar com o embaixador. E depois acrescenta falando comigo: é magnífico, é preciso ter coragem para dizer estas coisas, você não faz nada, é exactamente isso. Silêncio. Depois a conversa recomeça. Finjo não ver nada, não ouvir nada. Finjo que ela não está ali. Esqueço-a."
Anos antes, em Julho de 1982, tal como divulgou Laura Adler, na sua biografia de Duras, também editada pela Quetzal, a escritora, prémio Goncourt, tinha escrito sobre aquela estranha relação dos dois que se estendia aos livros: “A paixão que nos liga dura o tempo que me resta viver, o mesmo que a ti se apresenta muito longo. Não há nada que altere isso. Podes voltar às tuas voltinhas no Jardim das Tulherias, aos teus back-rooms, aos passeios de automóvel, aos circuitos à volta da Praça Saint-Martin. Não há nada que altere isso. Tu vais amar-me toda a tua vida. Porque vou morrer muito mais cedo do que tu, daqui a pouco tempo, e porque a nossa grande diferença de idades funciona como tranquilizante do teu enorme pânico de enfrentares uma mulher."
Yann Andréa recebia os 10% dos direitos de autor de Marguerite Duras. Depois de Aquele Amor, ainda publicou Ainsi (Pauvert, 2000) e Dieu commence chaque matin (Bayard, 2001). Nos últimos anos manteve-se retirado e não participou em nenhum evento do centenário do nascimento da escritora comemorado na Primavera passada.