Fotografia, a outra arte de Bryan Adams

Exposed, a exposição que resulta de um livro publicado em 2012, chega a Cascais em Outubro.

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As fotografias da velha Deardorff de madeira e fole parece que não ficaram assim tão bem. Até porque, quando Bryan percebeu que a sessão fotográfica com a rainha duraria apenas seis minutos (para carregar e preparar o disparo de uma câmara de grande formato é preciso cerca de um minuto), entrou em pânico e começou logo a pensar em alternativas. Encontrou-as no bolso: uma Contax, de 35mm. Foi com ela que registou a fotografia da rainha (com dois pares de galochas enlameadas ao lado) que vem estampada em Exposed, o livro que a editora alemã Steidl publicou em 2012 e que deu origem a uma exposição que agora passará por Portugal, onde poderá ser vista no Centro Cultural de Cascais a partir do dia 14 de Outubro. Aqui, para além de majestades da monarquia, há majestades do cinema, da música, da arte, da arquitectura, da moda.

O interesse de Bryan Adams pela fotografia é antigo. Andou sempre acompanhado de câmaras fotográficas, desde as mais portáteis Kodak dos pais, nos anos 60, até uma Rolleiflex “muito cara” que comprou no Japão, nos anos 90, e que foi usada até à exaustão. Um tio trabalhou na fábrica inglesa da Ilford e mandava-lhe rolos de preto e branco e papel fotográfico para imprimir. Ao longo destes anos, a fotografia de Bryan Adams tendia para o vernacular e era encarada como um tubo de escape nos intervalos da música, dos concertos, das viagens e dos incontáveis quartos de hotel, onde era preciso inventar para passar o tempo. Um dos estratagemas para matar o tédio consistia em mergulhar para a cama sem roupa, do ponto mais alto possível do quarto. O guitarrista Keith Scott era dos praticantes mais assíduos desse desporto radical, religiosamente registado por Bryan Adams. Que também dava os seus mergulhos, claro. A sua sorte, conta no prefácio de Exposed, é que Scott não fazia questão de registar esses voos em película fotográfica. As imagens registadas durante essas sessões de galhofa “nunca verão a luz do dia”, promete Adams que, só para dar um cheirinho da ousadia desses saltos, revela um selinho de Scott em pelota a voar rumo aos lençóis.

Um dia, nos finais da década de 90, Bryan Adams começou a tirar auto-retratos com o intuito de fazer uma imagem suficientemente boa para incluir na capa de mais um dos seus discos. Essas imagens deram-lhe alento e as câmaras de médio formato (“que faziam parecer todas as imagens mais bonitas do que qualquer coisa que alguma vez tenha fotografado”) passaram a fazer-lhe tanta companhia como as guitarras e as canções. O fotógrafo de moda americano Herb Ritts (1952-2002), indefectível do preto e branco e seguidor dos modelos de pose clássicos, deu-lhe o empurrão final. A cozinha da casa em Londres, com metade do tecto em vidro, transformou-se num estúdio (onde Kate Moss era uma habituée). E desde então, Bryan Adams passou a fotografar amigos, colegas de profissão e outros famosos afins (Mickey Rourke, Morrissey, Bem Kingsley, Amy Winehouse, Louise Bourgeois…). A qualidade desses retratos foi notada. Vieram convites para publicar na Interview, na  i-D, na Vogue… Até que fundou uma revista, a Zoo, e a fotografia passou a ocupar na sua vida a mesma quota-parte que a música. São muitos os que lhe tiram o chapéu pelo trabalho que tem feito. Outros, como Elton John, que assina um dos textos de Exposed, para além do chapéu até lhe tiram o capachinho.

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