“A história do único rei eleito pelo povo”

Museu conta a história da vida de Pelé e passa em revista os Mundiais em que participou com a camisola da selecção brasileira.

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Os jogadores da Costa Rica visitaram o Museu Pelé RONALDO SCHEMIDT/AFP

Mas a relação da cidade com Pelé não se fica por aqui. A secretaria de Turismo de Santos concebeu o Roteiro do Pelé, que integra alguns espaços icónicos relacionados com a história do futebolista – alguns já não existem, mas há outros que ele continua a frequentar, como por exemplo a barbearia de João Araújo, conhecido como Didi, onde Pelé continua a ir cortar o cabelo.

O roteiro ficou completo a 15 de Junho, com a inauguração do Museu Pelé. Foram investidos 50 milhões de reais (16,6 milhões de euros) para recuperar o edifício que hoje alberga objectos cedidos pelo próprio Pelé. Desde camisolas a faixas de campeão, passando pela Bola de Ouro de honra atribuída pela FIFA em Janeiro de 2014. Entre os objectos que se destacam no museu incluem-se o primeiro contrato de Pelé com o Santos, com 16 meses de duração, celebrado a 8 de Abril de 1957: lá está a assinatura, com letra de escola primária, de Edson Arantes do Nascimento, então com 16 anos. Ou o “cofrinho”, cuja tampa é decorada com desenhos infantis, onde Pelé, aos 11 anos, guardou os quatro cruzeiros e cinquenta centavos que recebeu de Landão Mandioca para defender a equipa de Vila Falcão num campeonato de pés descalços, em Bauru, onde cresceu. Mas também o diploma do Guinness para o recorde de golos marcados pelo “Rei” – foram 1283 em 1366 jogos, embora a contabilidade varie entre 1281 e 1285 golos – e a coroa e ceptro que recebeu antes da despedida da selecção brasileira, a 11 de Julho de 1971.

Chega-se ao museu num eléctrico clássico, que promete levar-nos ao sítio onde se conta “a história do único rei eleito pelo povo”. São quatro mil metros quadrados e mais de 2500 peças. Entramos e somos saudados pelo próprio Pelé: num ecrã gigante na parede, o ex-futebolista cumprimenta os visitantes em várias línguas. Há um espaço interactivo onde os visitantes podem candidatar-se a tentar repetir o milésimo golo de Pelé, ou aprender a driblar adversários como o anfitrião driblava. A zona de exposição reconstrói o percurso de vida do “Rei” e dedica uma secção a cada Mundial que disputou: Suécia 1958, Chile 1962, Inglaterra 1966 e México 1970.

Ali estão as chuteiras usadas na conquista do título de campeão do mundo em 1970, mas também o cromo de Pelé no álbum do Mundial 1958. “Edson Arantes do Nascimento, o benjamim da equipe, tem 18 anos apenas, 1 metro e 70, 61 kgs. Com 15 anos, já era internacional. Uma das mais risonhas promessas de nosso futebol”, pode ler-se na biografia daquele que viria a sagrar-se o “Rei”.

A secção sobre o Mundial 1966, no qual o Brasil foi eliminado logo na fase de grupos, inclui um capítulo sobre Eusébio, designado como o “candidato à coroa”. “A ‘Pantera Negra’ nascida em Moçambique foi o craque que, fisicamente, mais se pareceu com Pelé. O artilheiro do Benfica e de Portugal foi o grande goleador da Copa de 1966. A selecção dirigida pelo brasileiro Otto Glória aproveitou a excelente base do Benfica de Lisboa e chegou ao terceiro lugar na Inglaterra. A imprensa mundial especulava que havia um novo rei no futebol – Eusébio”, pode ler-se.

Mas, mais do que os troféus e as honras conquistadas, são as pequenas histórias da vida de Pelé que encantam no museu. Como a da primeira experiência do “Rei” ao volante: “Mal tinha tirado a carta de motorista, Pelé ganhou uma Mercedes zero km do empresário alemão Roland Endler. Logo tratou de estrear o presente. Convidou o irmão Zoca e foi dar uma volta em torno do estádio do Santos, na Vila Belmiro. Em uma esquina acertou um velho e robusto Ford, com prejuízos que só não foram maiores porque estava devagar e o guarda era seu fã”. Um rei, dentro e fora dos relvados.

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