Músico de culto considerável, sobretudo graças à sua banda-alter ego Bright Eyes, Oberst tem chegado a um público algo mais alargado do que o seu costumeiro graças às acusações que lhe têm sido dirigidas acerca de uma alegada violação — e o processo judicial que moveu à acusadora. Fosse este disco um desastre e Oberst poderia ter direito a uma lustrosa campa artística ao lado daquela onde jazem as Dixie Chics, moças country que percorreram o estatuto de queridinhas a proscritas pelo seu próprio meio em menos tempo do que leva a Billy Ray Cyrus cantar Achy breaky heart. Tudo porque criticaram abertamente e em palco a preparação de uma intervenção militar norte-americana no Iraque, assinada por George W. Bush em 2003, e por se dizerem envergonhadas de partilhar com o Presidente de então a origem texana.
Ora Oberst, embora muito mais obscuro, não faz outra coisa desde que primeiro o ouvimos que não passe por namoriscar a música country/folk. Mas de acordo com um modelo pouco purista, professado por Neil Young e Bob Dylan. Nesse sentido, aquele que em tempos foi capaz de colocar em causa o reinado de Ryan Adams na incontinência criativa dos cantores-compositores norte-americanos volta a expandir o seu universo exploratório ao fazer conviver a habitual fixação com a folk setentista com rumores de música latina (Artifact #1 faz os possíveis por ser uma ranchera mexicana) ou africana (belas, belíssimas insinuações dos arredores de Dakar ou Kinshasa em Hundreds of ways).
Com saber suficiente para recolher ensinamentos em Young, Dylan e Gram Parsons — a magnífica trindade que mais bem soube interpretar o milagre da fusão entre rock e folk —, Oberst nunca foi rapaz de colocar a cabeça no cepo (e safar-se sempre) tanto quanto Jim James, por exemplo, o faz a partir das mesmas coordenadas (a solo ou nos My Morning Jacket), nem tão-pouco de estar em casa quando as canções de génio lhe batem à porta (ao contrário de Adams, Oberst não têm nenhumHeartbreaker, nenhum Gold, nem sequer discografia dos Whiskeytown aos quais se possa encostar). Mas Upside Down Mountain está ao nível do melhor que se lhe conhece, felizmente acima do insosso último disco dos Bright Eyes e das experiências com os grupos Desaparecidos e Monsters of Folk. O que, mesmo não sendo brilhante, é um excelente atestado de sobrevivência, cheio de canções às quais se reconhece o direito de reclamar a eternidade — mas às quais não se está disposto a conceder mais do que 50 anos de boa reputação.