Cinco anos depois de ter perdido as eleições presidenciais para Hamid Karzai (perda essa que, sem surpresa, envolveu fraudes), Abdullah Abdullah poderá tornar-se enfim presidente do Afeganistão. A sua presumível eleição (teve mais votos na primeira volta e continua a ser visto como favorito) não alterará a relação do poder afegão com os EUA, pois tanto ele como o seu rival Ashraf Ghani (o favorito da Casa Branca), à semelhança do aconteceu com Karzai no início, trabalharão de perto com o poder norte-americano. Mas também não trará ao Afeganistão mais do que uma ténue promessa de continuidade naquela que tem sido a conturbada existência do país desde há décadas. A força dos taliban, no terreno e no vizinho Paquistão, imporá as suas regras, tal como a força dos eternos “senhores da guerra” com os quais o novo presidente, seja ele qual for, firmará alianças. O que podia ter sido o reencaminhar do Afeganistão na via de uma sociedade mais aberta e onde fossem minimamente respeitados os direitos humanos, perdeu-se numa péssima condução (há muito denunciada) dos destinos do país após a intervenção americana que, na sequência dos atentados terroristas do 11 de Setembro, expulsou os taliban e semeou a esperança (não cumprida) de um novo futuro. Aquilo a que Obama chamou “uma guerra de necessidade”, mantendo no Afeganistão as tropas que ia retirando do Iraque, acabou por revelar-se um investimento falhado, devido a numerosos erros e à persistência de chagas endémicas como a corrupção, os pequenos poderes sangrentos de chefes intocáveis e a inexistência de bases para um regime pluripartidário que se afirme pela política e não pelas armas. Com o Iraque, a Síria e o Paquistão em perigosas convulsões, com o avanço do extremismo islâmico no interior do país e na sua vizinhança, o Afeganistão votará, mais uma vez, vencido. E nada no horizonte, para mal dos afegãos e do mundo, permite esperanças maiores.