Ricardo Salgado realça sucesso do aumento de capital do BES
Procura superou a oferta em 79%; presidente do banco garante que é o maior sucesso desde a privatização em 1992.
Uma afirmação que surge depois de se confirmar que o núcelo duro, formado pelo Espírito Santo Financial Group, pelo Crédit Agricole, pelo banco brasileiro Bradesco e pela PT/Oi, reduziu a sua exposição ao BES de 54,6% para 46% o que facilita a tomada de posição por um accionista hostil.
“Dos dez aumentos de capital que fizemos desde a reprivatização, em 1992, este foi o de maior sucesso com a procura a situar-se em 178% relativamente à oferta”, considerou Ricardo Salgado em respostas enviadas ao PÚBLICO por correio electrónico.
Para o banqueiro “o êxito deve-se à elevada confiança, robustez e credibilidade que o banco goza nos mercados financeiros” e que “essa robustez sai ainda mais reforçada com esta operação.” Com esta declaração, Salgado procura isolar o BES das polémicas que rodeiam três holdings do Grupo Espírito Santo (Espírito Santo Control, a ES International e a ESFG), accionistas do banco, e que enfrentam acusações de irregularidades por parte das autoridades, nomeadamente a ocultação de 1200 milhões de euros nas contas da ESI, e insuficiências de capital da ordem dos 2500 milhões. Bem como uma exposição a instrumentos de dívida de empresas do GES à volta de 5000 milhões: 3% do PIB português.
Ontem, Ricardo Salgado confirmou que o GES vai avançar, nos próximos três meses, com um reforço de capital de mil milhões de euros agora na sua holding não-financeira Rioforte.
O “êxito” do aumento de capital surge dias depois de o Expresso ter anunciado que desapareceram do BES Angola (detido em 57% pelo BES) cerca de 5,7 mil milhões de dólares de créditos, 80% do total da carteira, sem garantias e até sem a identificação dos beneficiários.
Quando anunciou que ia avançar com este aumento de capital, por recomendação do Banco de Portugal, o BES justificou-o não só por conferir uma maior solidez à instituição e ainda “para criar reservas adicionais de capital” que vão possibilitar “fazer face ao novo enquadramento regulamentar conhecido como CRD IV” [aplicável aos bancos europeus desde 1 de Janeiro de 2014]”. E permitem estar preparado para enfrentar “os testes de stress e a revisão da qualidade dos activos que serão realizados em antecipação à transferência da supervisão dos bancos da União Europeia para o BCE.”
Um analista financeiro, ligado ao sector bancário, explicou ao PÚBLICO que “o resultado do aumento de capital do BES foi muito positivo”, mas observou que, “em larga medida, teve a ver com o apetite acrescido dos fundos internacionais pelo sul da Europa”. O que, acrescentou, “está expresso no sucesso da emissão de dívida pública portuguesa que ontem se realizou com as yields anormalmente baixas e que não reflectem o aumento das tensões políticas que hoje se verificam em Portugal.” Concluiu ainda que “as notícias de que o BES vai ter uma gestão mais profissional também ajudaram à confiança.”
O banco presidido por Ricardo Salgado colocou junto dos seus actuais accionistas e de novos investidores a totalidade de 1.607.033.212 acções “ordinárias, escriturais e nominativas, sem valor nominal”, a um preço por acção de 0,65 euros (ontem na bolsa de lisboa a acção fechou a 1,048 euros, ainda que a cair 5,67%). A procura superou, em 79%, a oferta, o que afastou a necessidade de recurso à tomada firme pelo sindicato bancário internacional formado para garantir o sucesso do reforço do capital. A admissão à negociação à Euronext Lisbon das 1.607.033.212 novas acções terá “lugar no próximo dia 17 de Junho de 2014”, passando o capital social do BES a estar representado por 5.624.961.683 acções.
Os investidores institucionais (bancos de investimento, fundos e seguradoras) aumentaram a sua posição de 37% para 45%, por contrapartida do núcleo duro que perdeu peso (menos 8,32%). Os dois accionistas de referência - o Grupo Espírito Santo/ Espírito Santo Financial Group e o Crédit Agricole - diminuíram a sua influência. O ESFG passou de 27,36% para 25% e a mútua francesa de 20,12% para 15%. Falta saber quem assumiu os 5,12% alienados pelo Crédit Agricole. Por seu turno o banco brasileiro Bradesco, que tinha até aqui 4,8% reduziu para 3,91% enquanto a PT/Oi manteve os 2,1%. Estas são duas empresas onde o BES tem participações qualificadas.
Entre os accionistas do banco estão os fundos BlackRock (5,12%), Silchester (4,93%) e Capital Research (3,07%), alguns com lotes de acções parqueadas e que pertencem a investidores (novos ou actuais) silenciosos. Mas o PÚBLICO desconhece com quanto ficaram após o aumento de capital.
Notícias actualizada às 18h30
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