PS-Porto adia decisão sobre congresso com apoiantes de Seguro a acusar “costistas” de traição

Presidente da distrital anunciou recandidatura e reconheceu que o resultado do PS nas europeias não foi a vitória que todos os socialistas gostariam de ter tido.

Foto
Carneiro e Pizarro estão em campos opostos na disputa nacional no PS e podem vir a enfrentar-se também na distrital do Porto Fernando Veludo/NFactos

Nesse momento, gerou-se um grande burburinho e houve mesmo quem tivesse abandonado a sala, em protesto pela forma como Avelino Oliveira (secretário da Junta Metropolitana do Porto, indicado pelo PS) atacou aqueles que estão ao lado de Costa. Antes, já se tinham ouvido vários insultos dirigidos a Manuel Pizarro, o líder da concelhia, que já tornou público o seu apoio ao autarca de Lisboa.

Com o congresso extraordinário fora da ordem de trabalhos, a reunião foi aproveitada para fazer uma espécie de ajustes de contas com Pizarro, pelo resultado por si alcançado enquanto candidato à Câmara do Porto nas últimas autárquicas e também pelo facto de - dizem os apoiantes de Seguro - “não se ter empenhado como devia” na campanha das europeias, que no concelho do Porto deram uma vantagem magra ao PS sobre a maioria governamental PSD/CDS-PP.

O presidente da Câmara de Santo Tirso e líder concelhio, Joaquim Couto, atacou violentamente o primeiro vereador do PS na Câmara do Porto. E Pizarro respondeu, afirmando que não foi ele quem “esteve no Brasil durante três semanas em plena campanha para as europeias” e lembrando que os militantes do Porto lhe renovaram o mandato como presidente da concelhia, já depois da derrota das autárquicas de Setembro. Couto não gostou do que ouviu.

E por que é que Manuel Pizarro está sob os holofotes das críticas? Porque os apoiantes do líder federativo temem que entre em cena, numa corrida para a distrital, disputando a liderança a José Luís Carneiro. Na reunião, Carneiro fez uma intervenção politicamente correcta, para não abrir nenhuma frente de conflito numa altura em que está a reunir apoios para a sua recandidatura à liderança da distrital.

A três anos de distância das eleições autárquicas, os opositores de Pizarro puseram em marcha uma campanha que o visa pessoalmente, pondo a circular um abaixo-assinado que apresentam como uma tentativa de "evitar uma catástrofe em 2017”. Neste documento, “apelam ao camarada Pizarro para que diga publicamente que não será o candidato do PS à Câmara do Porto nas eleições autárquicas de 2017”.

No final da reunião, o presidente da concelhia lamentava os insultos de “alguns apoiantes” de Seguro àqueles que estão com Costa. “A tentativa de substituir o debate político por uma qualquer condenação moral atenta contra a história e os valores do PS. No PS não há delito de opinião”, declarou ao PÚBLICO o líder da concelhia portuense, relatando alguns dos momentos mais quentes da reunião, marcada pelos “insultos de 'traidores' àqueles que apoiam António Costa”.

Segundo relatos feitos ao PÚBLICO, Francisco Assis advertiu que a disputa pela liderança entre Seguro e Costa “é uma questão que se coloca em termos políticos, não é uma questão moral”, e fez questão de dizer que António Costa, há um ano, não disputou a liderança do PS, porque um grupo de militantes, entre os quais ele próprio se incluía, lhe pediu para não avançar.

José Luís Carneiro fez uma “intervenção muito apaziguadora, não tendo feito nenhuma alusão ao conflito interno que o partido atravessa”, de acordo com informações avançadas ao PÚBLICO, que asseguram que, no final da reunião, anunciou a sua recandidatura à federação.

“Há aqueles que apoiam António Costa (…), mas o entendimento da maioria da comissão política [distrital…] é que o caminho de afirmação de alternativa e combate ao Governo e a estratégia traçada pelo secretário-geral merece o apoio da maioria”, afirmou Carneiro, citado pela Lusa, reconhecendo que o resultado do PS nas europeias não foi a vitória que todos os socialistas gostariam de ter obtido.

Apesar de o presidente da distrital ser apoiante do secretário-geral, não houve nenhuma votação de apoio à estratégia do líder do partido. 

Vila Real quer directas e congresso, Viseu está contra
No mesmo dia em que o Porto reunia a sua comissão política distrital, as federações do PS de Vila Real e de Viseu tomavam uma posição sobre a convocação de um congresso extraordinário electivo. Vila Real votou esmagadoramente a favor (32 contra cinco) de uma reunião magna com eleições directas que clarifiquem a situação do partido.

Em sentido contrário, pronunciaram-se os militantes de Viseu, que rejeitaram uma proposta no sentido de a comissão política distrital recomendar à comissão nacional a realização de um conclave. A proposta foi rejeitada por uma diferença de apenas nove votos (32 contra e 23 a favor).

Para esta quarta-feira à noite, está marcada a reunião da distrital socialista de Setúbal, liderada por Madalena Alves, apoiante de António José Seguro. Para além da de Setubal, faltam ainda as reuniões das federações de Viana do Castelo, Bragança, Braga, Guarda, Porto (visto que não chegou a votar qualquer proposta sobre um congresso extraordinário), Aveiro, Coimbra, Leiria, Santarém, Oeste, Lisboa, Beja e Açores.

Sugerir correcção
Comentar