Centenas de crianças poderão estar enterradas em antigo convento na Irlanda
Historiadora diz ter provas da existência de vala comum onde estarão os corpos de 796 crianças acolhidas num lar católico para mães solteiras.
“Uma pessoa disse-me que existia um cemitério de recém-nascidos. No entanto, o que encontrei foi muito mais do que isso”, contou a historiadora Catherine Corless, que há muito investiga estas suspeitas, à agência AFP.
A historiadora assegurou que descobriu na cidade de Tuam, no condado de Galway, restos mortais de 796 crianças, enterradas numa vala comum, sem lápide nem caixão. Apesar de a população local ter conhecimento da existência dos restos mortais, acreditavam que estes pertenceriam, na sua maioria, às vitimas da fome que devastou a população da Irlanda Ocidental no século XIX.
De acordo com a France Presse, a morte das crianças, que viviam sob a alçada das freiras da congregação de Bon Secours, está agora a ser investigada. Suspeita-se que poderão ter morrido devido a doenças, como a pneumonia e a tuberculose, ou ainda por subnutrição e maus tratos. Na primeira metade do século XX, a Irlanda tinha uma das piores taxas de mortalidade infantil da Europa, sobretudo devido à tuberculose.
Na cidade de Tuam, está em marcha uma campanha de angariação de fundos com vista à construção de um memorial com o nome de cada recém-nascido ali enterrado. Segundo o diário britânico Guardian, os líderes católicos de Galway garantiram que desconheciam que tantas crianças tinham morrido e sido enterradas naquele orfanato e comprometeram-se a ajudar na construção do memorial.
Ainda segundo a AFP, William Dolan, familiar de uma das crianças que viveram nesta instituição, denunciou judicialmente a situação e pediu celeridade no processo, para que se descubra o que realmente sucedeu nos 35 anos de actividade do orfanato.
Este caso trouxe novamente à tona antigos escândalos envolvendo a Igreja Católica na Irlanda, nomeadamente um que ocorreu entre 1922 e 1996 e em que mais de dez mil mulheres — conhecidas como “Irmãs de Madalena” —, que engravidavam fora do matrimónio ou que assumiram comportamentos impróprios segundo a doutrina católica, trabalhavam gratuitamente em lavandarias geridas comercialmente por representantes da Igreja.
Texto editado por Tiago Luz Pedro