Coboiadas

Dois anos depois do sucesso de Ted, a história do urso de peluche politicamente incorrecto que parecia uma mistura das comédias “bromânticas” de Judd Apatow com as fantasias Spielberguianas dos anos 1980, Seth MacFarlane, criador da série Family Guy, “estica-se” um bocadinho mais no grande écrã. Estica-se mais, mas não se estica melhor - em primeiro lugar porque alguém se esqueceu de lhe dizer (a ele e, já agora, à maioria dos autores cómicos americanos contemporâneos) que o segredo de uma boa comédia está no ritmo e na eficácia, e que há uma razão para a maioria das grandes comédias explicarem ao que vêm em apenas hora e meia.


Ora, Mil e Uma Maneiras de Bater as Botas estende-se às duas horas sem daí virem mais-valias para o filme, que revela rapidamente (tal como Ted) ser uma comédia romântica mais ou menos tradicional sobre o lorpa que se apaixona pela mulher modelo, transposta para a fronteira americana em 1882 e disfarçada de western cómico. Some-se-lhe o facto de MacFarlane ser um realizador mais utilitário do que inspirado, incapaz de emprestar qualquer tipo de ritmo ou de ideias de mise-en-scène para lá da estrutura em sketches herdada da televisão em que se formou e da queda no lugar-comum visual que identificamos com os westerns clássicos.

Estica-se, em segundo lugar, porque a paródia definitiva aos westerns clássicos já foi feita e de modo bem mais incisivo - é a Balbúrdia no Oeste que Mel Brooks dirigiu faz agora 40 anos, e MacFarlane não lhe consegue chegar aos calcanhares. Mas confessamos haver qualquer coisa de admiravelmente quixotesco em ir buscar um género que completamente desapareceu do cinema americano nas últimas décadas (e que pouco ou nada dirá a muitos dos espectadores contemporâneos mais jovens a quem Mil e Uma Maneiras de Bater as Botas mais será dirigido); detecta-se nessa escolha uma afeição que encarreira com a dimensão retro-Spielberguiana de Ted e define MacFarlane como um secreto nostálgico. E é por aí que é impossível não ter alguma simpatia pelo filme, ainda por cima quando confirma a sempre sub-valorizada Charlize Theron como comediante nata, e quando deixa Giovanni Ribisi e Sarah Silverman roubarem todas as cenas onde entram. É verdade que, durante a maior parte do tempo, Mil e uma Maneiras de Bater as Botas não passa de uma comédia televisiva ampliada para grande écrã, mas isso não incomoda muito quando há suficientes bons gagues para a coisa se levar na desportiva (“Mila Kunis!”). Ah, e tem Charlize Theron, já vos tínhamos dito?

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