Pagar 500 euros e estudar no Reino Unido

Empresas nacionais estão a intermediar saída de alunos portugueses para universidades britânicas. Sistema de empréstimos daquele país facilita o processo

O proprietário da OK Estudante, André Rosendo, 27 anos, conhecia bem o mecanismo dos empréstimos dependentes do rendimento ( income-contingent loans) em vigor no país desde os governos trabalhistas de Tony Blair. Estudou Design Gráfico no Reino Unido e recebeu um destes apoios. Criou a empresa em 2008 quando regressou a Portugal, na altura pensada apenas como uma iniciativa social para dar a conhecer aos estudantes nacionais esta possibilidade, cativando-os a ir estudar para instituições britânicas. Mas em quatro meses, o conceito evoluiu, e percebeu que tinha um negócio nas mãos e trabalham ali 17 pessoas.

O Reino Unido tem o sistema de ensino superior europeu onde os empréstimos têm maior peso, chegando a cerca de dois terços dos alunos. A solução foi promovida ao mesmo tempo em que se verificava um forte aumento das propinas e acabou por ter uma adesão maciça, uma vez que oferece condições muito favoráveis. “Era bastante apelativo para os estudantes”, comenta Luísa Cerdeira, investigadora da Universidade de Lisboa, especialista em financiamento do ensino superior.

No caso britânico, o Estado assume também a garantia junto dos bancos, com regras claras: os diplomados só começam a pagar de volta o apoio depois de atingirem um rendimento anual de 22 mil libras – cerca de 27 mil euros. A prestação é também definida tendo por base uma determinada percentagem do seu rendimento e, em caso de despedimento, o pagamento é suspenso. Esta rede de segurança “causa menos preocupações do que um empréstimo tradicional”, afirma Cerdeira, o que contribuiu para o sucesso da solução.

Os empréstimos com garantia do Estado no Reino Unido estão abertos a estudantes internacionais. E é isso que a OK Estudante e outras empresas do género exploram. No caso da empresa liderada por André Rosendo, o sistema é relativamente simples: os estudantes interessados pagam uma inscrição de 500 euros e, em contrapartida, a agência presta uma série de serviços. A firma faz acompanhamento académico, ajudando os estudantes a escolher o curso a que se querem candidatar, e ajuda a tratar do processo de candidatura – garantindo ter uma taxa de sucesso de 99% - que no Reino Unido é feito individualmente junto de cada universidade, ao contrário do que acontece em Portugal.

A empresa garante também apoio à chegada dos estudantes ao país de destino, tratando de arranjar alojamento e um emprego para os estudantes que, na esmagadora maioria, acumulam a formação com o trabalho. Durante os três anos do curso garante ainda acompanhamento para tratar de problemas ou dúvidas que surjam.

O sistema de recrutamento é semelhante ao que é usado pelas universidades portuguesas: André Rosendo vai a escolas secundárias, dá a conhecer estas possibilidades aos alunos, tentando convencê-los que é em terras britânicas que estão as melhores oportunidades para prosseguir os seus estudos. No primeiro ano, a OK estudante apoiou 127 alunos. O número tem crescido gradualmente – no ano passado foram mais de 200. Ao todo, desde 2008, mais de 1000 estudantes foram de Portugal para universidades do Reino Unido intermediadas por esta empresa.

Rosendo recusa, porém, a ideia de estar a ajudar a “sangrar” Portugal de talentos com esta iniciativa, desviando alunos de qualidade das instituições nacionais. “Portugal precisa destes estudantes e eles vão para lá ter uma formação de qualidade. O país cresce com eles”, defende.

Já Luísa Cerdeira não vê que o sucesso de empresas como a OK Estudante possa ser um problema para as instituições nacionais. “Não estou a ver que se crie aqui um pipeline que vá drenar pessoas para Inglaterra”, acredita, apontando o facto de a propina média britânica rondar as 10 mil libras anuais e os custos de vida inerentes como uma condicionante a ter em conta. “Para uma família de rendimentos médios é, ainda assim, uma situação a ter em conta. Há um risco de não se conseguir ter uma remuneração suficiente para pagar isto”, alerta.

A especialista também coloca reservas à possibilidade de sucesso em Portugal de um sistema de empréstimos como o britânico – EUA e Nova Zelândia são outros dos países que o adoptam. Os investigadores internacionais que se têm dedicado ao estudo destes mecanismos defendem que o modelo funciona em países onde há uma grande transparência fiscal e de rendimentos. Por isso, “é preciso grande cuidado” com a sua implementação. O Estado “corre muitíssimos mais riscos em países onde a transparência possa não ser tão nítida”, alerta Luísa Cerdeira.
 

   


 

   

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