Câmara de Almada gasta 78 mil euros em relógios para dar aos trabalhadores
Iniciativa é uma tradição com mais de 20 anos, que o presidente da câmara, Joaquim Judas (CDU), não quis quebrar. Concelhia do CDS-PP critica "gasto despesista e supérfluo".
O contrato, feito por ajuste directo e publicado no portal Base, tem um valor de 63.792 euros, ao qual acresce o IVA, num total de 78.464 euros. Feitas as contas, são 800 euros por relógio, pagos a uma ourivesaria local. Segundo o documento, os 55 relógios de homem e 43 de mulher devem ser entregues na autarquia até sexta-feira e têm garantia de dois anos.
“Cada relógio é gravado com o nome do trabalhador que o recebe”, explica o município num comunicado assinado pelo seu presidente, divulgado nesta quinta-feira à tarde. “Este é um reconhecimento da dedicação dos funcionários do município de Almada ao serviço público, existente há mais de 20 anos”, acrescenta.
Em 2013, a câmara gastou 82 mil euros em relógios. “Em 2014 a Câmara entendeu manter esta prática de valorização dos trabalhadores municipais, enquadrada numa política de respeito e consideração pelos funcionários públicos”, argumenta Joaquim Judas.
“Esta despesa não afecta o investimento da autarquia, nomeadamente nas áreas de intervenção social, que têm registado nos últimos anos um acréscimo de verbas, em virtude das necessidades sentidas pelas populações, derivadas das políticas nacionais que têm levado a um empobrecimento dos portugueses”, lê-se no comunicado.
A iniciativa municipal já mereceu críticas por parte da concelhia do CDS-PP de Almada, que manifestou “total discordância em mais um gasto despesista e supérfluo” por parte da câmara. “O mesmo montante poderia muito bem ser usado em medidas de política social”, escreve a concelhia na sua página de Facebook, acrescentando que o deputado centrista na Assembleia Municipal, António Pedro Maco, vai apresentar um requerimento a pedir explicações sobre esta adjudicação directa.
No comunicado, Judas diz não estranhar a condenação do CDS-PP, “tendo em conta a política que o Governo, que este partido integra, tem vindo a seguir em relação aos funcionários públicos e pensionistas, com a imposição de sacrifícios e o não reconhecimento de uma vida de trabalho”.
O dirigente da secção de Setúbal do Sindicato dos Trabalhadores da Administração Local, João Paulo, lembra que diversas autarquias reconhecem a prestação dos seus funcionários, de formas muito diferentes. Sobre a iniciativa de Almada, considera que “é sempre positivo o reconhecimento feito pela autarquia, dentro das suas posses”. E lembra que a iniciativa parte de um “município de topo, que não deve nada a ninguém e cumpre os seus compromissos”. Segundo o Anuário Financeiro dos Municípios Portugueses relativo a 2012 (o mais recente), Almada está entre os dez municípios com menor índice de endividamento.
“Pelo contrário, o Governo premeia os trabalhadores com despedimentos e com perda de subsídios”, remata o sindicalista.