Dia extra nas eleições no Egipto para dar força a Sissi

Fraca participação ameaça a credibilidade do marechal.

Foto
Apoiantes de Sissi frente a uma assembleia de voto no Cairo MAHMOUD KHALED/AFP

Depois de ter pedido uma participação extraordinária na votação, o marechal Abdel Fatah al-Sissi, que derrubou num golpe o primeiro líder democraticamente eleito, arriscava-se a ter na fraca participação uma machadada na sua credibilidade.

O Governo, apoiado pelos militares, lançou um esforço para levar as pessoas a participar na votação, com comboios de graça, por exemplo. O Ministério da justiça disse ainda que os egípcios que não votassem seriam multados. Media leais ao Governo apelaram ao voto, e um comentador televisivo disse mesmo que as pessoas que não votassem são “traidoras, traidoras, traidoras”.

Os media do Estado e privados, quase unânimes no apoio a Sissi, falavam de uma participação eleitoral baixa, sem dar no entanto qualquer número.

Também as autoridades religiosas apelaram à votação: não votar era “desobedecer à nação”, segundo a mais alta instância religiosa egípcia, a Al-Azhar, e também o chefe da Igreja Copta afirmou pediu para os eleitores irem às urnas nas segundas presidenciais em dois anos (os egípcios votaram num total de sete eleições, incluindo as presidenciais e um referendo, desde a queda do antigo Presidente Hosni Mubarak em 2011).

O único rival de Sissi é o nacionalista de esquerda, Hamdeen Sabahi, que ficou em terceiro em 2012 nas eleições ganhas por Morsi,o Presidente deposto no Verão passado pelos militares. Na segunda volta das presidenciais, Morsi foi eleito com 51,73% dos votos com uma participação de 51,85%.

O antigo chefe do Exército Sissi tornou-se um herói para muitos egípcios pelo golpe contra Morsi, que estava a ser alvo de contestação pelas alterações que queria fazer à Constituição e que eram vistas como ameaçadoras para as minorias. Mas também Sissi se tornou uma figura temível pela perseguição que fez à Irmandade Muçulmana, declarando-a “inimigo do Estado”, reprimindo as suas manifestações, matando centenas dos seus membros e detendo milhares, e acusando os seus líderes de crimes punidos com pena de morte.

“Ia votar em Sissi porque ele vai ser o Presidente de qualquer modo, e porque lhe estou grato por ter tirado a Irmandade Muçulmana do poder”, comentou Hani Ali, 27 anos, à Reuters. “Mas não vou votar porque as pessoas estão zangadas com o caos dos últimos meses e não são tão pró-Sissi como eu pensava”, justificou.