PS quer umas eleições "dois em um"

Duas palavras até agora evitadas entraram na campanha para as europeias: moção e censura.

À beira do final da campanha é altura de jogar todos os trunfos. E o PS está a colocar a fasquia elevada. Ao passar a mensagem, mesmo que dúbia, de que a seguir às eleições de domingo poder-se-á seguir uma moção de censura, o PS está a tentar passar duas mensagens. Primeiro está a tentar criar a ideia de que nas urnas conseguirá uma vitória esmagadora, o que naturalmente joga a seu favor. Segundo, a ideia de que quem votar nos socialistas para as europeias poderá estar a votar em algo mais do que eleger os 21 deputados para o Parlamento Europeu.

Primeiro foi António José Seguro que discursou em Fafe para dizer que chegou a “hora de, com o voto de cada português, fazermos justiça, censurarmos este Governo […]”. O líder do PS usa a palavra censura, mas não fala em moção. E o que diz Francisco Assis? Que “depois de domingo, é o infinito, tudo pode acontecer.” Quando confrontado directamente com as duas palavras (moção e censura), o cabeça de lista diz que “é uma questão que neste momento não está, nem deve estar, na nossa agenda até ao próximo domingo”.

O ”neste momento” e o “até ao próximo domingo” são expressões com uma ambiguidade intencional que, não assumindo uma moção, também não a rejeita.

Este discurso é arriscado e até pode virar-se contra o próprio PS. Se as sondagens dão vitória aos socialistas, estão longe de lhes dar a certeza de que tal vitória seja esmagadora a ponto de acelerar o calendário eleitoral. E se elevarem demasiado a fasquia, a frase de Assis – “um bom resultado é ganhar” – deixará de servir de bitola. E Cavaco dificilmente pactuará com uma dissolução do Parlamento numa altura em que o FMI ainda nem sequer fechou a 12.ª avaliação. E o CDS e PSD, a não ser que haja uma hecatombe de votos que faça perigar a coligação, vão continuar a garantir uma maioria para chumbar uma eventual moção.
 

  



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