Co-produção teatral portuguesa cancelada horas antes da estreia em Luanda

Decisão foi equiparada a censura pelo teor político do espectáculo. Ministério da Cultura de Angola argumenta com falta de condições de segurança.

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A interdição da sala de espectáculos foi comunicada por correio electrónico três horas antes da estreia da peça Augusto Baptista/Cena Lusófona
“Não é fácil explicar o sucedido. Vamos falhar um compromisso por razões que nos ultrapassam”, lamentou Pedro Rodrigues, da Cena Lusófona, contactado pelo PÚBLICO em Luanda. Segundo explicou, nunca durante todo o processo de agendamento e preparação do espectáculo foi dado conhecimento de qualquer problema técnico, estrutural ou de segurança da sala do cineteatro, que pertence ao Ministério da Cultura de Angola e é gerida pela associação Chá de Caxinde.

O cancelamento do espectáculo causou algum “frissom” em Luanda e nas redes sociais, onde a decisão governamental foi equiparada a censura pelo teor político do espectáculo. “Este espectáculo fala da luta de poder, dos conflitos entre aqueles que lutam para obter poder e da corrupção”, explica Pedro Rodrigues. “Não é sobre a realidade angolana, mas essa associação foi feita aqui em Luanda”, reconheceu.

A interdição da sala de espectáculos foi comunicada por correio electrónico três horas antes da estreia da peça — um texto do escritor guineense Abdulai Sila que é uma adaptação do famoso Macbeth de William Shakespeare, e que já foi apresentado em Portugal, Espanha e Guiné-Bissau e deveria terminar a sua itinerância internacional na capital angolana, nos dias 16 e 17 de Maio.

Este sábado, a Cena Lusófona foi convocada para uma reunião de emergência com a ministra da Cultura angolana, Rosa Cruz e Silva, que, segundo Pedro Rodrigues, “disse que não tinha conhecimento que o teatro estava a funcionar e que nos preparávamos para apresentar o espectáculo”, uma explicação que a associação portuguesa não entende, uma vez que a ministra participou em reuniões e conferências de imprensa sobre o projecto e foi convidada a assistir à estreia.

No mesmo encontro, a governante “colocou a possibilidade de o espectáculo poder ser apresentado noutras salas, desde que tecnicamente possível”. Essa solução vai ser agora avaliada pela Cena Lusófona, que foi forçada a devolver os cerca de 300 bilhetes vendidos para as apresentações no Nacional Cine-Teatro, que tem estado a funcionar regularmente desde Março, depois de obras de reparação.

Nenhuma das duas alternativas apresentadas são salas de espectáculos: trata-se do palco de um salão de festas e de um espaço num centro de conferências, que teriam de ser adaptados para acolher uma produção teatral.

“Vamos ter de avaliar se é ou não possível. Só podemos apresentar o espectáculo se estiverem garantidas as condições mínimas técnicas e de segurança”, afirmou Pedro Rodrigues, acrescentando que também do ponto de vista financeiro “é complicado” prolongar a estadia da comitiva de 22 pessoas envolvidas na produção.

O espectáculo integra-se no projecto P-Stage, um projecto de formação, criação e difusão teatral financiado pela União Europeia e que envolve actores de língua portuguesa. Os parceiros da Cena Lusófona na produção de As orações de Mansata foram o Elinga Teatro de Angola, a Companhia de Teatro de Braga e A Escola da Noite, ambas portuguesas, e ainda o Teatro Vila Velha de Salvador, no Brasil.

 

 

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