Operadores turísticos do Pico falam de ano “excepcional” para ver baleias
Nas últimas cinco semanas os avistamentos têm sido diários e de várias espécies em simultâneo: desde a gigante baleia-azul à baleia-comum, entre outras. Especialista em cetáceos nota que esta concentração não é anormal.
“Está a ser um ano excepcional”, diz Frank Wirth, alemão que criou em 1998 a Pico Sport, uma das cinco empresas de observação de cetáceos da ilha. O Pico é um dos locais mais procurados nos Açores para ver cachalotes e baleias, mas este ano está a superar as expectativas dos operadores. “Parece uma festa no meio do Atlântico”, afirma Wirth. Na lista de “convidados” estão duas espécies em perigo de extinção - a baleia-azul (Balaenoptera musculus), o maior animal do mundo, que pode atingir 30 metros de comprimento e 150 toneladas de peso, e a baleia-de-bossas (Megaptera novaeangliae), e também a baleia-comum (Balaenoptera physalus). As três pertencem ao grupo das baleias-de-barbas, assim chamadas por terem barbas em vez de dentes.
“É muito raro encontrar uma concentração tão grande de baleias e de tantas espécies em simultâneo”, diz Frank Wirth, que já visitou países como a Argentina, Austrália e Antárctida, onde existem santuários dedicados a estes animais. “Há locais fantásticos para observar baleias nesses países, mas apenas uma espécie de cada vez, e no Pico vemos sete ou oito espécies ao mesmo tempo”, afirma o alemão. E sublinha: "Portugal pode ficar muito orgulhoso desta riqueza."
A ver baleias junto à costa
Nesta segunda-feira, os tripulantes do barco da Pico Sport viram quatro baleias-de-bossas, dez baleias-azuis, três baleias-comuns, três grupos de espécies distintas de golfinhos e ainda um peixe-lua (Mola mola), segundo Frank Wirth. Mas não é obrigatório sair para o mar para ver este espectáculo: as baleias passeiam-se a 200 ou 300 metros da costa. “Há quem estacione o carro à beira-mar e fique a vê-las passar”, descreve Nuno Sá, o fotógrafo subaquático português mais premiado em concursos internacionais de fotografia de natureza. Mal soube desta “concentração” de baleias, Sá voou para o Pico e já conseguiu uma imagem que procurava há uma dezena de anos: a cauda de uma baleia-azul fora de água, a “chapinhar”. “É raro elas mostrarem a cauda”, explica.
O francês Serge Viallelle, dono da Espaço Talassa, a primeira empresa de observação de cetáceos do Pico, tem uma base de dados actualizada desde 1997 com o registo das espécies avistadas diariamente. E a diferença deste ano em comparação com os anos anteriores é notória. No ano passado, por exemplo, a baleia-de-bossas foi avistada apenas uma vez em Maio, e este ano já houve nove avistamentos em seis dias, ainda o mês vai a meio. "É um ano excepcional, mas não é anormal, não significa que há mais baleias no Atlântico", ressalva Viallelle.
O investigador Rui Prieto, do Departamento de Oceanografia e Pescas (DOP) da Universidade dos Açores, também prefere ser cauteloso. Segundo o biólogo, a presença destes animais é “normal” e “não há qualquer evidência de que este ano existam mais ou menos baleias do que em anos anteriores”. Este especialista em cetáceos refere que as flutuações anuais no número de espécimes avistados “são perfeitamente naturais”, e reflectem “fenómenos oceanográficos que contribuem para a presença e abundância de alimento [as baleias-de-barbas comem peixes e pequenos camarões]”.
Juntamente com outros investigadores do DOP, Rui Prieto tem estudado a distribuição espacial e temporal dos cetáceos que se avistam nos Açores e concluiu que a região é uma importante “cantina” para estas espécies durante a sua migração para norte. Antes pensava-se que as baleias não se alimentavam durante a fase de migração, vivendo à custa da energia acumulada sob a forma de gordura. “O nosso trabalho contraria esta ideia e demonstra que pelo menos alguns indivíduos se alimentam na região dos Açores, durante a sua migração de Primavera”, explica o biólogo. “Se os locais disponíveis para a alimentação em águas temperadas são limitados, então torna-se urgente proteger esses habitats de modo a garantir que determinadas actividades humanas não colocam em risco a sobrevivência destes animais”, remata.