"Quinta-feira negra" para o Mundial do Brasil
Inaugurações, protestos, invasões, Dilma, Pelé e acidente foram algumas das palavras que marcaram ?o dia que se viveu nesta quinta-feira, num país que luta contra o relógio para estar a postos no dia 12 de Junho.
O Campeonato do Mundo está cada vez mais perto e a imagem utópica do que poderia ser cada vez mais longe. Num dia que supostamente assinalaria o cessar dos inúmeros conflitos envolvendo as construções da Arena da Baixada (Curitiba) e do Itaquerão (São Paulo) — apesar de ambos estarem incompletos —, a capital paulista, cidade de abertura do Mundial, foi alvo de grandes manifestações, que chegaram aos edifícios das construtoras Odebrecht, Andrade Gutierrez e OAS.
De acordo com a Folha de São Paulo, cerca de 300 pessoas ocuparam a Praça do Ciclista (onde se encontra a OAS), 700 as estações Butantã (Odebrecht) e 400 as avenidas do bairro de Interlagos (Andrade Gutierrez).
Os protestos, que envolviam o movimento “sem-tecto” e “sem-terra”, começaram a aquecer à medida que o sol subia e, por volta das 10h (14h em Portugal), aproximadamente 100 pessoas invadiram o lobby da empresa responsável pelas obras do Itaquerão (Odebrecht). O hall de entrada da OAS também foi tomado por participantes dos mesmos movimentos, empunhando cartazes e fazendo pinturas no chão. Uma delas dizia, em vermelho: “Esse é o sangue do povo”.
Um dos manifestantes protagonizou inclusive um discurso, no qual, de megafone em punho, denunciou o facto de a OAS ser “uma das empresas que mais lucraram com o Mundial”. Por isso, acrescentou, “há falta dinheiro para moradias, saúde e educação para a população”.
De forma a evitar que os protestos fossem direccionados para o Itaquerão, a presidente aceitou reunir-se com Guilherme Boulos, líder do movimento do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Tecto), na pista de pouso no bairro de Itaquera, situada perto do estádio. Segundo Boulos, a presidente “comprometeu-se a estudar a situação do terreno [da pista] e a possibilidade de transformá-lo em moradia popular”, através do programa “minha casa, minha vida”, um plano habitacional já há muito criado pelo Governo.
Para além destas manifestações, um grupo de pessoas abordou, por mero acaso, o ex-jogador Pelé, numa campanha comercial em frente ao Parque Trianon (São Paulo). Aproveitando-se da presença do antigo jogador, envolvido em várias polémicas relacionadas com o Campeonato do Mundo, iniciou protestos com faixas, gritos e fechou os dois sentidos da avenida no momento em que Pelé deixava o local.
No Rio de Janeiro, também houve problemas. Contudo, estes aconteceram em virtude das greves dos motoristas e cobradores dos autocarros, que reclamam o aumento dos salários.
Nona vítima mortal
Já no outro lado do país, na cidade de Cuiabá, um operário morreu no decorrer de uma descarga eléctrica, enquanto trabalhava nas instalações da Arena do Pantanal, assinalando a nona vítima mortal nas obras do Campeonato do Mundo. De acordo com a Rede Globo, o local do acidente foi isolado e não vai comprometer o término das obras do palco de quatro jogos da competição.
Posto isto, é compreensível que Jérome Valcke, secretário-geral da FIFA, tenha admitido que tem “vivido um inferno” na preparação do Brasil para o Mundial, que começa já no dia 12 de Junho. “Foram três anos complicados, tanto para o Brasil quanto para nós. Tivemos complicações relativas à estrutura do país, em relação a investimentos que talvez tenham começado tarde e uma incompreensão [por parte da população] em relação à dimensão do evento”, explicou, em conferência de imprensa realizada na Suíça.
Para os brasileiros, resta a esperança de que a bonança chegue a tempo e que o Mundial seja lembrado como um acontecimento para recordar e não para esquecer. Texto editado por Nuno Sousa