Investigadora portuguesa recebe medalha internacional de história da ciência

Marta Lourenço foi galardoada com Medalha George Sarton pela Universidade de Gent. Um prémio que mostra a “valorização do património científico”.

Os instrumentos científicos antigos permitem conhecer a história científica
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Os instrumentos científicos antigos permitem conhecer a história científica Nelson Garrido/Arquivo
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Marta Lourenço tornou-se este ano subdirectora dos Museus da Universidade de Lisboa DR

A investigadora e historiadora de ciência Marta Lourenço foi galardoada com a medalha George Sarton 2014 pela Universidade de Gent, na Bélgica, que premeia os historiadores de ciência, anunciou neste domingo o Ministério da Educação e Ciência (MEC), em comunicado.

“É um reconhecimento pelos historiadores de ciência pelo trabalho que tenho vindo a fazer”, explica ao PÚBLICO a investigadora, numa nota mais pessoal. Mais importante é a valorização das colecções científicas. “Visto que todo o meu trabalho passa pela protecção e valorização do património científico, no fundo é o reconhecimento da importância das colecções científicas para a história da ciência”, explica a historiadora de 43 anos, que pertence ao Centro Interuniversitário de História das Ciências e da Tecnologia da Universidade de Lisboa, e é investigadora associada do Conservatório Nacional de Artes e Ofícios de Paris.

Marta Lourenço licenciou-se em física na Universidade de Lisboa e realizou o doutoramento em museologia e história da tecnologia no conservatório nacional de artes e ofícios, em Paris. Este ano, a investigadora tornou-se subdirectora dos Museus da Universidade de Lisboa. “Tem como interesses de investigação história das colecções, história dos museus, património universitário e museologia”, lê-se no comunicado do MEC.

A historiadora também é coordenador do PRISC (sigla de Portuguese Research Infrastructure of Scientific Collections, ou Infra-estrutura Portuguesa de Investigação de Colecções Científicas), um consórcio criado para proteger o património científico português, avaliar a sua importância, ajudar a cuidar, manter e criar condições para guardar as colecções, para que possam ser usadas por cientistas e pelo público.

George Sarton (1884-1956) foi aluno da Universidade de Gent, na Bélgica. O químico belga é considerado um dos fundadores da história da ciência. O prémio, sem valor pecuniário associado, só será entregue a 15 de Janeiro de 2015, no Museu de História das Ciências da Universidade de Gent.

Na cerimónia, Marta Lourenço terá oportunidade de dar uma palestra que já tem nome provisório: Colecções, museus e património científico: estabelecendo relações e envolvendo a sociedade através da história.

“Já se sabe que os instrumentos científicos e as colecções científicas são relevantes para a história da ciência”, diz-nos Marta Lourenço, referindo-se também aos laboratórios velhos que estão preservados, aos livros de ciência escritos no passado ou aos milhões de objectos que foram sendo armazenados ao longo do tempo em colecções naturais de todo o mundo. “Olhar para elas, é olhar para o passado. Isso é relativamente consensual, apesar de haver poucas pessoas a trabalhar nisso.”

O objectivo da palestra é, segunda a investigadora, mostrar o “papel cultural” desta fonte de informação histórica, ou seja, explicar a importância de se mostrar à sociedade este património científico. Por três motivos. “Se as pessoas não se apercebem porque é que estas colecções são importantes, não se envolvem na afectação de recursos para a sua preservação e acessibilidade”, explica Marta Lourenço, referindo-se a um motivo “político”.

Há um lado educacional. “É muito mais fácil comunicar ciência pela história dos problemas científicos”, diz, em vez de se utilizar os conceitos científicos, como se faz tradicionalmente. E, por fim, é também uma questão científica. “Uma história da ciência que só usa correspondências, facturas e arquivos é uma história parcial.”

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