Poeta oferece 40 cravos negros à Assembleia da República

O poeta-experimental António Barros vai fazer chegar no dia 25 de Abril ao Parlamento o objecto-livro Lástima, num gesto que pretende assinalar criticamente os 40 anos da revolução de Abril

Lástima 09
Fotogaleria
Lástima 09 António Barros
Lástima 10
Fotogaleria
Lástima 10 António Barros
Lástima 15
Fotogaleria
Lástima 15 António Barros
Lástima 20
Fotogaleria
Lástima 20 António Barros
Lástima 25
Fotogaleria
Lástima 25 António Barros
Lástima 27
Fotogaleria
Lástima 27 António Barros
Lástima 38
Fotogaleria
Lástima 38 António Barros

Num jogo de repetições e variações cirúrgicas, uma palavra como “obediente” pode mostrar o seu lado mais “odiento”, ou “é conforme” transformar-se em “com fome”, ou a expressão “tudo como dantes” ser associada a “tudo comediantes”. E em cada um destes críticos cravos negros anda perdido um “p”, isolado das restantes letras, no qual o próprio autor sugere que se pode ler “pátria”, ou “pobre”, ou “Portugal”.

Este ramo de 40 cravos/poemas, de que aqui mostramos sete exemplares, pode ser visto/lido na íntegra no endereço http://po-ex.net/, um arquivo digital da poesia experimental portuguesa. Nascido em 1953, no Funchal, mas há muito radicado em Coimbra, pode dizer-se que António Barros é, com César Figueiredo, Fernando Aguiar ou Silvestre Pestana, um dos autores da segunda geração da poesia experimental portuguesa, que sucedeu à dos pioneiros E. M. Melo e Castro, António Aragão, Salette Tavares ou Ana Hatherly.

Ligado também ao movimento artístico internacional Fluxus, e próximo do situacionismo de Guy Debord, António Barros tem obras no Museu de Serralves e noutras colecções internacionais.

Numa breve biografia do autor redigida para o site PO.EX, o poeta e tradutor Manuel Portela observa que nos objectos-poemas de Barros “encontramos um sentido profundo da dimensão política das relações sociais e uma crítica irónica à reconstituição das estruturas de poder no Portugal pós-revolucionário”. Se se quisesse avançar um exemplo para ilustrar a descrição proposta por Portela, dificilmente se encontraria melhor do que este objecto-livro significativamente intitulado Lástima, que chegará amanhã, por via electrónica, à Assembleia da República.

Sugerir correcção
Comentar