Rússia admite defender interesses na Ucrânia com guerra como a da Geórgia

Lavrov reagiu a anúncio por Kiev de recomeço de operação "antiterrorista" no Leste da Ucrânia, lembrando conflito armado de 2008. "Não vejo outra maneira que não seja responder", disse.

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Militante pró-russo guarda um dos edifícios ocupados em Slavyansk KIRILL KUDRYAVTSEV/AFP

“Se os nossos interesses, os nossos interesses legítimos, os interesses dos russos forem directamente atacados, como foram por exemplo na Ossétia do Sul [território separatista da Geórgia], não vejo outra maneira que não seja responder, no respeito pelo direito internacional”, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros, Serguei Lavrov, numa entrevista à estação televisiva Russia Today. “Um ataque contra os cidadãos russos é um ataque contra a Rússia”, acrescentou.

Em 2008, a Rússia e a Geórgia envolveram-se numa breve guerra, após a qual o Governo de Moscovo reconheceu a independência dos territórios separatistas pró-russos da Ossétia do Sul e da Abkhazia.

Pouco depois das declarações de Lavrov, um porta-voz militar russo informou que tropas de Moscovo realizaram exercícios no sudeste da região de Rostov, que faz fronteira com a Ucrânia. Imagens da Reuters mostraram movimentações de veículos militares, incluindo jipes, blindados e rampas móveis de lançamento de mísseis, num aeródromo.  

As palavras de Lavrov seguiram-se ao anúncio pelo governo interino da Ucrânia do recomeço da operação “antiterrorista”  contra separatistas pró-russos que, há semanas, ocupam edifícios governamentais e controlam cidades do leste. O reinício da acção, divulgado horas depois do fim da visita a Kiev do vice-Presidente dos EUA, Joe Biden, levou o ministro russo a estabelecer uma relação entre os factos. “Não tenho qualquer razão para não acreditar que os americanos dirigem este espectáculo de forma directa”, disse.

Mais tarde, o ministério dos Negócios Estrangeiros russo insistiu numa retirada dos militares deslocados pelo governo de Kiev para o Leste da Ucrânia como condição para um diálogo que acredita ser o desejo dos países ocidentais. A diplomacia de Moscovo manifestou-se também surpreendida por Ucrânia e EUA “distorcerem” a interpretação do acordo alcançado na semana passada em Genebra, o qual previa o desarmamento de “todos os grupos ilegais” e a desocupação de edifícios públicos ucranianos tomados por pró-russos.

Moscovo entende que Kiev e os EUA “fecham os olhos” a acções provocadoras de nacionalistas ucranianos e – apesar de repetidas alegações de sentido contrário – garante que não controla os pró-russos da Ucrânia. Ficou por isso sem resposta um apelo feito pela União Europeia para que a Rússia use a sua influência para acabar com raptos e mortes atribuídos a separatistas no Leste da Ucrânia.

O Departamento de Estado norte-americano declarou-se esta quarta-feira preocupado com notícias do rapto por pró-russos, em Slaviansk, de um jornalista norte-americano do site Vice News. O auto-proclamado presidente da câmara da cidade, Viatcheslav Ponomarev, confirmou na terça-feira à noite que o repórter Simon Ostrovsky estava nas instalações locais dos serviços de segurança, controladas por separatistas, e se encontrava bem.

Os EUA têm repetido que está fora de causa uma intervenção militar na Ucrânia, mas a NATO, Organização do Tratado do Atlântico Norte, anunciou nos últimos dias o reforço da presença militar nos países membros geograficamente situados mais a Leste. O aumento da tensão pode levar a um reforço das sanções económicas impostas à Rússia após a anexação da Crimeia – o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, repetiu-o na terça-feira, numa conversa telefónica com Lavrov –  e a uma eventual resposta de Moscovo que poderia passar pela corte do fornecimento de gás à Europa. O ministério da Energia de Moscovo anunciou esta quarta-feira ter proposto ao comissário europeu Guenther Oettinger um encontro sobre o gás entre Rússia, Ucrânia e comissão europeia, que se realizaria em Moscovo, na próxima segunda-feira.

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