Mais de 70% das pessoas desconhecem a diferença entre gripe e pneumonia

Pouca informação é especialmente preocupante quando a doença motivou quase 300 mil internamentos entre 2000 e 2009. Doenças crónicas e resistência aos antibióticos agravam o cenário.

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Adriano Miranda

São factos que dificultam a actividade de quem está no terreno, com o pneumologista Filipe Froes a sublinhar que “a melhor maneira de tratar é prevenir, pelo que a vacina não deve ser vista como uma despesa, mas como um investimento em termos económicos e vitais”.

Os dados antecipados ao PÚBLICO, que serão divulgados pela Sociedade Portuguesa de Pneumologia nesta terça-feira a propósito da Semana Europeia da Vacinação, foram recolhidos durante o ano passado através de um inquérito presencial feito a mais de mil pessoas durante acções de sensibilização. Os resultados mostram que, para 96% dos participantes, a pneumonia é uma doença de que já ouviram falar, apesar de desconhecerem sintomas ou as formas de prevenção. Entre os inquiridos, apenas 5,4% das pessoas tinham recebido a vacina pneumocócica, que previne contra algumas das formas da infecção por pneumococos, uma bactéria que ainda provoca outras doenças como meningite, sépsis ou otite.

Filipe Froes explica que a pouca informação é especialmente preocupante quando a doença motivou entre 2000 e 2009 quase 300 mil internamentos nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde, com uma média de mais de 80 pessoas por dia. O mesmo médico do Hospital Pulido Valente (Centro Hospitalar Lisboa Norte) e membro da Sociedade Portuguesa de Pneumologia explica que “o potencial muito mais grave” da infecção não deve ser desvalorizado, acrescentando que os números têm sofrido um agravamento devido a factores como as doenças crónicas, o aumento da esperança média de vida e as resistências criadas em relação aos antibióticos.

Quanto à diferença entre uma gripe e uma pneumonia, Filipe Froes diz que há casos de gripes que evoluem precisamente para esta forma de doença mais grave, pelo que há muitos sintomas parecidos. Porém, lembra que a gripe é uma doença que acontece, sobretudo, entre Novembro e Março, enquanto a pneumonia existe o ano inteiro e é “menos benigna, mais intensa e mais duradoura”. Febre persistente, tosse acompanhada de expectoração raiada de sangue, amarela ou esverdeada, falta de ar, prostração maior do que o normal e dores no corpo mais localizadas na zona do tórax, sobretudo quando se inspira, são alguns dos sinais a ter em conta. A prevenção, insiste, começa precisamente numa outra vacina, a contra a gripe sazonal, e em actos diários como deixar de fumar e ter uma alimentação equilibrada, assim como em “manter as doenças crónicas controladas, já que a pneumonia afecta mais pessoas, por exemplo, com diabetes”, assim como crianças e pessoas com mais de 50 anos.

Ao contrário da vacina contra a gripe, que é agora gratuita para os grupos de risco e para as pessoas com mais de 65 anos, a vacina pneumocócica, que custa mais de 200 euros, ainda não está no Plano Nacional de Vacinação. Filipe Froes admite que, num cenário de crise económica, é difícil que o Serviço Nacional de Saúde comporte esta despesa, mas diz que as famílias também estão a aderir cada vez menos. “Ao terem de responder a outras despesas, esta acaba por ficar para trás, mas quanto mais crianças e idosos tivermos vacinados mais protegidas ficam também as pessoas ainda não vacinadas”, diz, assegurando que mesmo nas doenças crónicas há agora mais doentes com dificuldades em manter a medicação, “o que favorece o aparecimento de pneumonias”. O médico insiste que os ganhos com a prevenção compensam: “Facilmente se ultrapassa o valor da vacina em faltas ao trabalho, antibióticos, análises e raios X quando uma pessoa fica doente.”

Há mais de um ano, a Assembleia da República aprovou uma recomendação no sentido de a vacina pneumocócica ser incluída no Plano Nacional de Vacinação. Porém, ainda faltam alguns meses até haver uma decisão oficial sobre o tema, com a Direcção-Geral da Saúde (DGS) a garantir que até Junho terá uma posição definitiva – após a análise de todos os estudos disponíveis. Até agora, a vacina apenas é disponibilizada de forma gratuita a alguns grupos definidos como de risco, em que se incluem pessoas com determinadas doenças crónicas. Em termos de esquema de vacinação, nos bebés são necessárias quatro doses para se conseguir imunidade, mas nas crianças e nos adultos uma já é suficiente, dispensando-se reforços.

Esta já não é a primeira vez que a DGS analisa o tema, depois de em Julho de 2008 a Comissão Técnica de Vacinação ter optado por adiar a sua introdução. Dois anos depois, quando a vacina tinha também melhorado e protegia já contra 13 serotipos da bactéria da doença, a mesma comissão decidiu introduzi-la apenas para determinados grupos, explicando que não estava comprovada a sua administração mais global com o objectivo de ser criada a chamada imunidade de grupo.

Número de óbitos cresceu 25% em apenas um ano
Os últimos dados do Observatório Nacional das Doenças Respiratórias, divulgados neste ano e referentes a 2012, indicam que a área da pneumonia é das que mais tem piorado dentro destas patologias. Naquele ano registou-se um total de 6795 mortes, mais 25% do que no ano anterior. As pneumonias representam 60% dos internamentos nesta área, um número que cresceu 14% em cinco anos. Quanto à mortalidade, verifica-se um aumento de 32,1% em cinco anos.

A taxa de mortalidade por pneumonia em Portugal é, aliás, o dobro da média europeia, segundo um relatório que já tinha sido apresentado em Outubro de 2013 pela Direcção-Geral da Saúde, que reconhece a necessidade de estudar as causas desta realidade. Os dados de 2010 mostram que a taxa de mortalidade por pneumonia em Portugal era de 24,2 por cem mil habitantes, quando na UE a 27 era de 12,9.

Em Portugal, a mortalidade por doenças respiratórias constitui a terceira principal causa de morte a seguir às doenças cardiovasculares e aos tumores, de acordo com os dados do Programa Nacional para as Doenças Respiratórias.

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