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Entre a pose e a presa, entre o vinho e o sangue

Caça Grossa é o resultado de meses de trabalho no Alentejo. O fotojornalista António Pedrosa acaba de apresentar um livro e uma exposição em Mora onde as imagens são muito mais do que presas.

Veados abatidos em espera para analise pela equipa veterinária. Montaria da Associação de Caça e Pesca de Santana, Nisa. Novembro 2014
Fotogaleria
Veados abatidos em espera para analise pela equipa veterinária. Montaria da Associação de Caça e Pesca de Santana, Nisa. Novembro 2014

A bolsa do Prémio de Fotojornalismo Estação Imagem/Mora, no valor de 4000 mil euros, é uma iniciativa que dá aos fotógrafos a possibilidade de realizarem um ensaio com conta, peso e medida. E tempo. Ou seja, coisa muito rara (única?) em Portugal. António Pedrosa, vencedor da bolsa do ano passado (a quarta, depois de João Pina, Paulo Alegria e Nelson d’Aires) agarrou esta oportunidade com o projecto Caça Grossa, uma incursão pelo mundo da caça de animais de médio e grande porte na região do Alentejo, aquela que apresenta maior variedade cinegética. Durante 2013 (e início de 2014), o fotojornalista, que também já venceu o grande prémio Estação Imagem Mora com a reportagem Iraquianos (sobre uma comunidade cigana do Bairro do Iraque, na vila transmontana de Carrazeda de Ansiães), integrou-se em associações na expectativa de “documentar os diversos tipos de caça em Portugal” e conhecer a maneira como as várias épocas se dividem durante o ano. O objectivo passou também por tentar perceber quem tem acesso a esta actividade, e saber se hoje está reservada a quem tem mais recursos para pagar o acesso a propriedades privadas, cujas diárias podem oscilar entre os 250 e os 5000 euros.

Quando partiu para o terreno, António Pedrosa levava da caça apenas o imaginário iconográfico, sobretudo aquele que está ligado à fotografia. Dentro desta, a imagem que mais o perseguiu foi captada por J. A. da Cunha Moraes (1855-1933). É uma fotografia que mostra o resultado de uma caça ao hipopótamo no Rio Zaire, em Angola, e foi publicada em 1882 no álbum Africa Occidental. Como um troféu, o animal é apresentado à frente dos caçadores brancos, ladeados por ajudantes da tribo local. Tudo nela é “pose e presa”, um mundo já muito distante, que serviu a Pedrosa como ponto de partida na busca dos “grandes caçadores contemporâneos”. Mas apenas isso. Porque ao longo de Caça Grossa, captado em diferentes formatos e suportes, percebe-se que o fotógrafo não se contentou com as imagens contemplativas que, decerto, se lhe ofereceram ao olhar. Calçou as botas de borracha e meteu-se na lama. Durante meses, fotografou em concelhos alentejanos que se estendem de Mora a Mértola. Participou em montarias, ao lado de “caçadores ricos e remediados”, entre os que procuram troféus e os que estão mais interessados na carne. Conheceu quem vive da caça e quem a procura como um passatempo de fim-de-semana. Procurou a pose e a presa, mas não se deixou enredar por nenhuma delas.

Quem olha para as imagens deste trabalho, que pode ser visto em Mora até 4 de Maio (segue depois para o Centro Português de Fotografia, no Porto), percebe como o fotógrafo conseguiu entrar nos rituais, e estar nos momentos de máxima concentração, o disparo, nos de maior dramatismo, a perseguição e morte, e nos de relaxe e descontracção. “Acompanhei os diversos tempos de uma caçada, entre a pose e a presa, o vinho e o sangue, o estampido dos tiros e o murmúrio dos campos”, escreve o fotógrafo, que, afinal, também foi um caçador.

Cães na perseguição de um gamo. Arraiolos. Fevereiro 2014
Cães na perseguição de um gamo. Arraiolos. Fevereiro 2014
Ana Parreira, matilheira, da Matilha de Estremoz. Montaria da Associação de Caçadores "Os Asas" de Mora. Novembro 2013
Ana Parreira, matilheira, da Matilha de Estremoz. Montaria da Associação de Caçadores "Os Asas" de Mora. Novembro 2013
António Alves, guarda florestal da zona de caça municipal de Montargil. Novembro 2013
António Alves, guarda florestal da zona de caça municipal de Montargil. Novembro 2013
Luis Parreira a recolher os seus cães, da Matilha de Estremoz. Montaria da Associação de Caçadores do Concelho de Mora. Fevereiro 2014
Luis Parreira a recolher os seus cães, da Matilha de Estremoz. Montaria da Associação de Caçadores do Concelho de Mora. Fevereiro 2014
José Teixeira com o seu barrete da sorte. Montaria da Associação de Caçadores "Os Asas" de Mora. Fevereiro 2014
José Teixeira com o seu barrete da sorte. Montaria da Associação de Caçadores "Os Asas" de Mora. Fevereiro 2014
Paisagem de caça. Mora
Paisagem de caça. Mora
José António Silveira, mais conhecido por Berras a puxar o javali abatido para uma zona visível para melhor recolha. Herdade do Pedrogão em Montemor-o-Novo. Setembro 2013
José António Silveira, mais conhecido por Berras a puxar o javali abatido para uma zona visível para melhor recolha. Herdade do Pedrogão em Montemor-o-Novo. Setembro 2013
Monteiro Pedro Alves. Batismo pelo primeiro abate de javali. Montaria da zona de caça municipal de Montargil. Novembro 2013
Monteiro Pedro Alves. Batismo pelo primeiro abate de javali. Montaria da zona de caça municipal de Montargil. Novembro 2013
Sede da Associação da Casa do Povo da Amieira do Tejo
Sede da Associação da Casa do Povo da Amieira do Tejo
Veados abatidos em espera para analise pela equipa veterinária. Montaria da Associação de Caça e Pesca de Santana, Nisa. Novembro 2014
Veados abatidos em espera para analise pela equipa veterinária. Montaria da Associação de Caça e Pesca de Santana, Nisa. Novembro 2014