Cirurgias no IPO de Lisboa canceladas por falta de batas para os médicos

Fonte médica da instituição explicou que horas depois o armazenista repôs o material nos blocos.

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Segundo a administração, a falha levou apenas ao cancelamento de três operações de pequena cirurgia Foto: Malte Jaeger

Logo no primeiro turno de intervenções da manhã desta sexta-feira as equipas foram surpreendidas com o cancelamento das operações devido à falta das batas esterilizadas e apropriadas para estes procedimentos. No entanto, segundo explicou ao PÚBLICO fonte médica da instituição, um contacto com o fornecedor permitiu que horas depois o armazenista repusesse o material nos blocos.

O PÚBLICO contactou o IPO para tentar obter esclarecimentos sobre a duração da situação, perceber se há mais materiais em falta, quantas cirurgias foram afectadas e como serão recuperadas. Numa resposta escrita, a administração explicou que “o planeamento das intervenções cirúrgicas para o dia de hoje [sexta-feira] foi objecto de reorganização devido a uma ruptura de stock de batas cirúrgicas, que se ficou a dever a questões administrativas no processo de fornecimento daquele material estando a situação já normalizada”.

Segundo a administração, a falha levou apenas ao cancelamento de pequenas cirurgias e “não houve, até ao momento da presente resposta, cancelamento de nenhuma grande cirurgia e a expectativa é de que seja possível realizar as intervenções programadas para hoje sem outra necessidade de remarcação”.

O caso do IPO junta-se a vários outros que têm sido denunciados pelos profissionais de saúde e pelos utentes de norte a sul do país, com os centros de saúde e hospitais a verem parte da sua actividade condicionada ou interrompida por falta de material clínico como compressas, luvas, agulhas ou batas. Em Janeiro, por exemplo, um grupo de médicos do Centro Hospitalar do Algarve escreveu uma carta, que foi também remetida ao ministro da saúde, sobre os “frequentes” adiamentos de cirurgias programadas por “falta de material cirúrgico”.

A situação acontece numa altura em que se sabe que os números de 2013 mostram que o tempo de espera para uma cirurgia na área oncológica foi o maior dos últimos quatro anos, com um aumento de cinco dias no primeiro semestre do ano passado em relação ao período homólogo de 2012, segundo os dados da Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS) e que fazem parte do Relatório Preliminar do SIGIC (Sistema Integrado de Gestão de Inscritos para Cirurgia), relativo ao primeiro semestre de 2013.

Em relação aos dados concretos só para o IPO de Lisboa, o documento indicava que a unidade viu a sua actividade cair 8,4%, com uma média de quase 82 operações por médico – um número próximo, ainda assim, das 85 consideradas que são consideradas o valor ideal. Ao todo a unidade operou 3504 pessoas no período a que reportam os dados, sendo que quase 18% das pessoas são atendidas fora do chamado tempo máximo de resposta garantido, que está previsto na lei e que varia de acordo com a gravidade das patologias.

Em Janeiro, os administradores dos três IPO do país (Lisboa, Porto e Coimbra), tinham-se também queixado de alguns problemas, nomeadamente a dificuldade em recrutar profissionais para manter a actividade normal, por terem de esperar por respostas do Ministério das Finanças. “O ano de 2013 não foi um ano tão bom em termos de crescimento como costuma ser, o que resultou da sucessão de restrições de financiamento, das limitações à gestão de recursos humanos que hoje existe em todos os hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS)”, adiantou, na altura, o administrador do IPO de Lisboa, Francisco Ramos.

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