Responsáveis afegãos admitem níveis elevados de fraude nas presidenciais
Comissão de queixas recebeu três mil denúncias desde sábado.
O escrutínio dos votos já começou, mas só no próximo sábado a comissão eleitoral vai divulgar os primeiros resultados da votação em algumas províncias do país, mas avisa que os números “não serão representativos”, nem devem servir para nenhum dos candidatos reclamar vantagem. Num país onde faltam estradas e abundam montanhas e desertos, o transporte das urnas até Cabul vai demorar semanas a estar concluído e a incerteza é terreno fértil para os diferentes candidatos trocaram acusações de fraude.
“Quero dizer que houve fraude eleitoral e poderá não ter sido numa escala pequena”, afirmou Abdul Satar Saadat, chefe da Comissão de Queixas Eleitorais, a quem compete avaliar as queixas. No início da semana, o mesmo responsável tinha dito que a votação tinha sido “menos fraudulenta” do que a de 2009. Mas desde então, as queixas não param de chegar – desde sábado foram apresentadas 3000 denúncias e a comissão admite que o número possa continuar a aumentar à medida que os processos eleitorais vão chegando a Cabul.
O responsável afirmou que a maioria das queixas apresentadas directamente à comissão “tem a ver com trabalhadores da comissão eleitoral”, mas mostrou-se confiante que os responsáveis pelos desvios serão identificados e as fraudes identificadas. No entanto, sem um registo universal de eleitores (ou sequer um censo nacional de habitantes) poderá ser muito difícil às autoridades afegãs averiguar as denúncias – o país terá cerca de 12 milhões de eleitores, mas há 21 milhões de cartões em circulação.
Apesar da ameaça dos taliban, que nas semanas que antecederam a votação multiplicaram os ataques contras estrangeiros e as forças de segurança, as eleições decorreram sem grandes incidentes e houve uma forte afluência às urnas. Mas o período crítico só agora começa, à medida que os resultados forem sendo anunciados. Os ex-ministros dos Negócios Estrangeiros Abdullah Abdullah e Zalmay Rassoul e o antigo ministro das Finanças Ashraf Ghani são vistos como os mais bem posicionados para suceder a Karzai, o único Presidente que o Afeganistão conheceu desde a queda do regime taliban, em 2001, e que está impedido pela Constituição de concorrer a um terceiro mandato.